sábado, fevereiro 28, 2009

O que faz falta

Filipe II tinha um colar de oiro
tinha um colar de oiro com pedras rubis.
Cingia a cintura com cinto de coiro,
com fivela de oiro,
olho de perdiz.

Comia num prato
de prata lavrada
girafa trufada,
rissóis de serpente.
O copo era um gomo
que em flor desabrocha,
de cristal de rocha
do mais transparente.

Andava nas salas
forradas de Arrás,
com panos por cima,
pela frente e por trás.
Tapetes flamengos,
combates de galos,
alões e podengos,
falcões e cavalos.

Dormia na cama
de prata maciça
com dossel de lhama
de franja roliça.
Na mesa do canto
vermelho damasco,
e a tíbia de um santo
guardada num frasco.

Foi dono da Terra,
foi senhor do Mundo,
nada lhe faltava,
Filipe Segundo.

Tinha oiro e prata,
pedras nunca vistas,
safira, topázios,
rubis, ametistas.
Tinha tudo, tudo
sem peso nem conta,
bragas de veludo,
peliças de lontra.
Um homem tão grande
tem tudo o que quer.

O que ele não tinha
era um fecho éclair.

Poema do fecho éclair, António Gedeão. Poesias completas (1956-1967), 2ª Edição, Portugália Editora, Lisboa, 1968, pp 246-248.

terça-feira, fevereiro 24, 2009

D. Ester no baile

Proposta para este entrudo: ir a Entradas. Ao entrudanças. Com medo que não me deixassem entrar pela ausência de saias indianas e sandálias de cabedal no meu armário, parti para o Alentejo com o sol quente de domingo. Ao chegar estendi o pulso para me porem a anilha colorida que me dava acesso às actividades, descobri que afinal é um clube que deixa entrar pessoas como eu. De alguma forma isso não foi suficiente para me tranquilizar.

Depois de um bucólico passeio entre ovelhas e comido o prometido ensopado de borrego, devia sentir-me uma besta ao conseguir apreciar os béeeeeee da mesma forma que desencastro os bocados de carne do osso para os saborear, mas não. Decididamente não serei nunca uma vegan, o que de novo me deixou apreensiva, seria desta que me expulsariam do recinto?

Vi violas de campaniça a serem feitas, ponderei encomendar botas caneleiras feitas por medida, comprei brincos e pregadeiras freak à ganância, pensei que estava a conquistar a redenção que me permitiria ver a luz.

Nessa noite assistimos à performance "Memórias do entrudo em entradas", resultado de uma pesquisa dos costumes carnavelescos e da vida quotidiana dos tempos em que havia camponesas e lavadeiras. Mais de meia hora antes a sala já estava cheia dos habitantes da aldeia, curiosos para verem finalmente o video que os meninos da cidade andaram a produzir com a sua ajuda, apoio e protagonismo. O filme feito a partir de fotografias valeu a viagem, montagem com a terra e as gentes, entre caras bonitas e caretas de carnaval, para além do entrudo ele mesmo que acabou a noite a ser queimado ao ar livre, numa pira que haveria de durar toda a noite.

Seguiu-se um baile com danças italianas e francesas, que eu não sabia de todo como dançar. Mas com Deus como minha testemunha, I shall never be still again. No dia seguinte atirei-me como D. Ester às oficinas de dança.

Com o meu par lá fomos aprender valsas, mazurcas, polkas, fandangos e o que mais nos saiu do corpo. Para romper com a ideia quadradinha de se ficar agarrado à tábua de salvação de uma cara conhecida, o professor punha-nos a mudarmos de parceiro a meio das danças. Diverti-me imenso, a passear por braços de dezenas de homens diferentes, cada um reinventando o que tínhamos acabado de aprender ao seu modo e eu a tentar acompanhá-los da melhor maneira que conseguia. À noite atirei-me então sem dramas às músicas que me propunham, com o par que me calhasse em sorte.

Descobri um sítio e espaço onde o que interessa é a boa disposição e a vontade de estar bem consigo e com os outros. Além do mais, promessas são para serem cumpridas.

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Estrelas de mil cores, ecstasy ou paixão

Deve ser por andar a dormir pouco e a trabalhar muito, mas esta noite fui perseguida por um nissan primera com um joker ao volante.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Prevenção e água benta

Quando nem tenho tempo para me coçar, será melhor comprar um fraquinho de quitoso à cautela?

sábado, fevereiro 14, 2009

Restos e utilidades

Quis um acaso do destino que ficasse a braços com mais doces do que os que comi durante um ano inteiro. Procuro mentalmente algum amigo diabético que queira matar, mas até agora nada.

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Uma festa de anos original

Charles Darwin faz 200 anos, a sua A origem das espécies 150. Houve quem se lembrasse de comemorar a data e o evento de modo original: fazendo-lhe uma festa de aniversário. Em Lisboa, no Frágil, dia 12 de Fevereiro.

Diz que é uma festa surpresa, se o virem não lhe digam. Tenho para mim que o dito vai lá aparecer... bom, pelo menos o Dj é o Nuno Lopes, como é que eu podia faltar?

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Conversa de cama

- Gosto muito de dormir abraçada a ti.
- Eu também. És quentinha.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

the picasso within

Tenho um desgosto desde que me conheço - sou totalmente negada para o desenho. Durante os anos em que fui obrigada a tê-lo na escola os professores compadeciam-se do meu esforço e davam-me o suficiente para passar, não era por não tentar era por ser uma naba completa.

Descobri hoje uma avaliação do professor de Educação Visual do 2º ano do ciclo que resume bem essa minha faceta:

"A Menina Ester conseguiu com o interesse ultrapassar algumas das suas dificuldades de representação do real e de comunicação visual. Revelou criatividade. Deve continuar a trabalhar para manter o aproveitamento satisfatório".

De partir o coração.

Valeram-me as matérias em que podia aplicar a dita criatividade em linguagens que não requeriam a motricidade fina, e que não me tiravam pontos pela caligrafia - tão penosa como o desenho.