sábado, janeiro 31, 2009

O contrato

Gosto muito dele, gosto mesmo muito dele. Ele pode não saber mas em 2010 vamos casar, tenho a certeza. O problema é que ele tem de resolver a sua vida, a mulher e as crianças, sabes como é.

A coisa nasceu devagarinho, nem dava para adivinhar o que dali vinha. Uma relação profissional que se foi estreitanto, quando dei por mim os telefonemas e mensagens diários eram às dezenas, passamos horas ao telefone por tudo e por nada, tempos infinitos. Mas ele nada de avançar para o que é bom, eu acho que o problema dele é ser demasiado boa pessoa.

Vai daí achei que o melhor para ver se ele acordava era fazer-lhe ciúmes, podia ser que assim resultasse e ele percebesse o que anda para aqui a perder. Comecei a receber flores, telefonemas, coisas assim de um Hugo. Com vida, profissão e tudo, que nestas coisas se é para criar inventa-se tudo desde o início.

A coisa cresceu de tal forma que percebi que para o abanão final o Hugo tinha de aparecer, e não podia ser nenhum dos meus amigos, senão mais cedo ou mais tarde ele ia descobrir a marosca. Além do mais levo as coisas muito a sério, se é para fazer faço bem.

Contratei um prostituto.

terça-feira, janeiro 27, 2009

De facto

Conversando com um grande clínico, tentando descobrir a melhor forma de fintar a mulher de branco, atira-me

Não temos prova científica de que vamos morrer, mas não somos parvos

domingo, janeiro 25, 2009

Actually, my eyes are green


Tal como todas as mulheres do filme, também eu, sentada na minha poltrona no escuro, não consegui deixar de me apaixonar por ele. Temo bem ser um caso perdido; desde que o vi como gay sádico apanhei-o como a um vírus.

sábado, janeiro 24, 2009

Defesa indiana do rei

No sábado ficámos sem a Tereza Coelho. No domingo foi-se embora o João Aguardela. Neste fim de semana ponho o cavalo em F3.


quinta-feira, janeiro 22, 2009

Quinze a zero

Apresento-me um bocado antes da hora marcada para a conferência subordinada ao tema "sistema digestivo e sistema excretor", pelo meu sobrinho na sala da 3ª classe.

Explica-me o procedimento: vai haver uma exposição, seguida de perguntas e todos (incluindo eu) teremos de fazer a avaliação no final. Faço uma careta de maldade e posso dizer que não gostei? Responde-me com tranquilidade, se for essa a tua opinião sim, mas tens de explicar porquê.

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Unidades de medida

-Parece-me que a tomada de posse do Obama é equivalente a um Sporting-Benfica.

- Em termos de quê?

- Transmissão em directo e cervejas

sexta-feira, janeiro 16, 2009

A educação que me deram

Ao almoço com o meu Pai,

- Tu estás bem, filha?

- Estou mega stressada, cheia de trabalho, com 5 projectos simultâneos e com umas pessoas a quererem fazer-me a folha. Estou com pressa por causa disso, tive chatices de manhã e agora mais umas reuniões e...

- Sim, mas tirando isso, estás bem?

O meu pai trabalha imenso, todos os dias. Quando era pequena não entendia aquele afã, sempre agarrado aos papéis, até porque quando os largava nem uma palavra sobre o assunto lhe saia. Ensinou-nos que o trabalho faz parte da vida, mas que de facto não é o mais importante. Quando me pergunta como estou não lhe interessa se o trabalho corre bem ou mal, isso é o que eu tenho de fazer, a minha missão. O que realmente importa é se estou bem comigo e com os outros, amizades e amores. O resto vem por acréscimo. E que falar do trabalho é para quem não tem mais nada que dizer.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Aqui vai uma barquinha carregadinha de

Não sei a que achar mais graça, se a D. José Policarpo ter dito que casar com muçulmanos pode ser um monte de sarilhos ou se o ter dito numa tertúlia chamada "125 minutos com Fátima Campos Ferreira" no Casino da Figueira da Foz - ou que o tenha proferido na mesma sala onde hoje se pode ver o show Hot Legs, também com entrada livre.

Oz

Tenho uma relação estranha com Baz Luhrmann. Da primeira vez que vi o Romeu e Julieta odiei; à segunda fiquei encantada. Com o Molin Rouge foi amor à primeira vista. Australia cansou-me, desesperou-me e divertiu-me. Os twists propositadamente previsíveis provocaram-me gargalhadas, parecia que o encontrava atrás do ecran a piscar-me um olho, here's looking at you kid. Ele brinca com os clichés todos, os maus e os bons, o homem rude e a mulher sofisticada, os ricos e os pobrezinhos, os autóctones que não podem entrar no saloon dos brancos, o oficial britânico que desiste de lutar por uma possibilidade de romance. Western, guerra, amor, bebidas que provocam caretas, soluções milagrosas para desastres iminentes, beijos à chuva, bailes de gala e entradas arrebatadoras.

Australia conta-se em duas linhas: homem, mulher e criança, uma missão, perdem uns actores secundários pelo caminho até ao happy ending final. Os bons são recompensados, os maus são presos, a verdade ganha sempre.

Oz é o nome coloquial para a Austrália. Com tanta sorte Victor Fleming, um dos realizadores amplamente citados durante as 3h do filme, tinha feito há 80 anos o Feiticeiro de Oz, usado como leit motiv para nunca nos esquecermos que algures no final do arco-iris, lá bem em cima, todos os sonhos são possíveis.

Ah, e tem o Hugh Jackman a domar cavalos. Yummy.

segunda-feira, janeiro 12, 2009

The truth is out there

O que é o tempo, o que ele nos faz, o que tudo isto significa. Séculos de perguntas à volta do mesmo tema, chega agora a messias: Cristina A., aluna do ensino superior resolve de forma brilhante a questão "Quais as diferenças entre preparações extemporâneas e definitivas"

As diferenças entre as preparações é que as temporárias somos nós a preparar, as definitivas já estão feitas e prontas para serem observadas ao microscópio.

Reparem como ela entende o continuum espaço-tempo, em que a matéria definitiva já existia antes de nós e perdurará além da nossa morte, por oposição ao efémero, ao trivial, ao prazer momentâneo e fugaz que ocorre na construção de algo mais curto que a nossa existência.

domingo, janeiro 11, 2009

Descoberta dominical

Há mais poleias entre o céu e a terra Horácio, do que podia sonhar a minha vã filosofia.

sábado, janeiro 10, 2009

Quero (não) ver o mesmo que eles

Numa grande loja de óculos enquanto espero que me atendam vou lendo os folhetos que se estendem à minha frente, com a mesma atenção que dedico aos pacotes de leite e manteiga do pequeno almoço. Viro-os de um lado, do outro, passando os olhos meio indiferente aos seus golpes publicitários, até encontrar o inesperado dentro do capítulo opções de lentes:


"Lentes polarizadas:
Lentes de sol polarizadas que protegem dos deslumbramentos e evitam reflexos incómodos"






(descobri nuns folhetos mais à frente que na realidade se referiam a encadeamentos. fiquei um bocado desiludida, já tinha encomendado meia dúzia)

quinta-feira, janeiro 08, 2009

Península

Estou rodeada de pilhas de papéis e trabalho por todos os lados excepto um. O da parede atrás de mim.

quarta-feira, janeiro 07, 2009

Resoluções de ano novo - 9

Número 9 - Dançar e cantar sempre

Salsa, merengue, kizomba, morna, tango, rock, pop, samba, electrónica, punk, hard core trash metal, polca, valsa, rumba ou cha cha cha, o que importa é dançar mesmo muito.


E cantar, no banho, no carro, na sala, com público ou sem ele. Continuar sem me importar com as pessoas que deixo de boca aberta nos semáforos ao verem as minhas goelas abertas no máximo enquanto me abano no banco.


Não interessa se não acerto no tom, o pior mesmo é desafinar na vida.


segunda-feira, janeiro 05, 2009

Ceci n'est pas une porte

Uma fotografia da sem-se-ver


Descobri esta fotografia aqui e esta posta tornou-se inevitável. De repente esta porta era eu. A madeira tosca, metade pintada e outra por cuidar, corações de ambos os lados mas cada um com o seu norte. E fechada como está, com uma tranca a trespassar corações desavindos sem saber o que lhes há de fazer. Mantê-los juntos ainda que cada um para o seu lado? Mas se uma porta está para ser aberta, não serve de muito fechada. Pois não?

Olhando melhor, acho que se pode abrir mas do outro lado. Daquele que não vemos, que não conseguimos ver, que está do lado oposto ao da fotografia. Há alguém que tem a chave e consigo o poder de a abrir e dar-lhe então sentido. De que serve uma porta com corações desencontrados se não se pode escancarar?

Uma porta que protege mas não do frio porque está esburacada em ambas as portadas. Também não é da chuva, que come a tinta e incha a madeira. Ao vento não oferece grande resistência, com medo de se partir. Para que serve esta porta então?

Olho ainda com mais atenção. Tem pregados os resquícios do que um dia foi uma fechadura, agora partida e sem nada que a faça mover. Mas ainda resiste uma pega de metal com aspecto firme. É nela que deposito a minha esperança.

sábado, janeiro 03, 2009

Resoluções de ano novo - 10

Número 10 - Tratar (melhor) do carro

Já com a dita fora do prazo, marco a inspecção que serve até para averiguar do seu grau de conservação. Espero a minha vez ao lado de outras pessoas com igual ar macambúzio, entre ressacas e gripes ainda por curar do ano anterior. Uma voz feminina chama-me pela matrícula, pedindo-me sublinhando o por favor que me dirija à linha 3, onde me espera um circunspecto inspector que me manda avançar com sinais que descortino com dificuldade, afinal é mais para a direita. Segue-se a saga dos mínimos, médios, máximos, piscas, que se repete para a parte traseira acrescentando a luz de marcha atrás e a de nevoeiro, seguindo-se o triângulo e colete (XL, faz-me sempre rir pensando no dia em que o terei de usar).

Passando à parte séria, a dos travões e suspensão, para a qual já tenho resposta preparada. "Importa-se que seja eu a fazer?", pergunta-me. "Claro que não, até lhe ponho o banco mais para trás e tudo", arranco-lhe assim um sorriso aberto e genuíno, pondo o bold não apenas na sua superioridade na capacidade de travar o meu carro como nas suas dimensões viris comparadas com as minhas (como sou pequena é truque que resulta sempre, e à qual o típico macho português se revela sensível).

Apenas me devolve a primazia do condutor porque tem de me mandar guinar a direcção enquanto inspecciona qualquer coisa nas entranhas, nunca soube o quê e dou graças por terem finalmente instalações que não me obrigam a ser içada a 3 metros de altura do chão, situação que me deixa em meio pânico a achar que é desta que faço as manchetes do correio da manhã com um acidente mais que insólito.

Veredicto final: aprovado por unanimidade, mas sem louvor e com uma distinção. Diz que tenho os faróis descaídos. Venho-me embora, não sem antes verificar no espelho retrovisor se se estaria a referir ao aparecimento de algum pé de galinha.

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Ímpar

Garante-me um amigo, que recolheu a informação junto de fontes não identificadas mas muito bem posicionadas, que 2009 vai ser um ano ímpar. Não tenho motivos para duvidar.