Descobri esta fotografia aqui e esta posta tornou-se inevitável. De repente esta porta era eu. A madeira tosca, metade pintada e outra por cuidar, corações de ambos os lados mas cada um com o seu norte. E fechada como está, com uma tranca a trespassar corações desavindos sem saber o que lhes há de fazer. Mantê-los juntos ainda que cada um para o seu lado? Mas se uma porta está para ser aberta, não serve de muito fechada. Pois não?
Olhando melhor, acho que se pode abrir mas do outro lado. Daquele que não vemos, que não conseguimos ver, que está do lado oposto ao da fotografia. Há alguém que tem a chave e consigo o poder de a abrir e dar-lhe então sentido. De que serve uma porta com corações desencontrados se não se pode escancarar?
Uma porta que protege mas não do frio porque está esburacada em ambas as portadas. Também não é da chuva, que come a tinta e incha a madeira. Ao vento não oferece grande resistência, com medo de se partir. Para que serve esta porta então?
Olho ainda com mais atenção. Tem pregados os resquícios do que um dia foi uma fechadura, agora partida e sem nada que a faça mover. Mas ainda resiste uma pega de metal com aspecto firme. É nela que deposito a minha esperança.
9 comentários:
Belo post!
Abraço
Do outro lado da porta está um jardim. Fala-nos do teu jardim.
na altura em que fotografei esta porta e a postei no meu blog (26 de fev de 2008) pedi análises a ela, na respectiva caixa de comentários.
pena não ter surgido esta sua belíssima leitura, na ocasião.
que bom ter ela surgido agora...
(beijos)
(e sim, esta porta permite infindáveis leituras)
Bom dia.
Gostei imenso deste post. Será que a tranca resistirá a um forte abanão pela pega, e assim a porta se abrirá?
É a nossa esperança, será?
sem-se-ver, em fevereiro eu não era esta porta.
orquídea, não sei. um abanão muito forte pode partir a porta, isso não queremos.
manyfaces um jardim? não sei. Um abrigo, talvez.
Joana, obrigado.
e olhando com atenção, tem o número 13 meio sumido
Também gostei do texto. E identifiquei-me com ele. Vamos ter esperança!
Cadeia em linha (virtudes dos blogs) vim ter a esta porta.
Parabéns pelo belo texto interpretativo da fotografia da sem-se-ver.
Transcrevo parte do texto do meu comentário quando, a mesma, me remeteu para aqui " A porta, com efeito, inquietou-me, mas a música sossegou-me - l'hymne à l'amour."
D. Ester, prazer em conhecê-la e, virei com bastante mais frequência, ao seu baile.
Abraço forte.
2009 repleto de bailados, se possível, com poucos pisares na biqueira ou nos calos :-)
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