quinta-feira, abril 30, 2009

Ceci n'est pas une pine

No início da semana 12 lá fomos para a ecografia para ver a translucência da nuca e aquelas coisas todas que os médicos querem medir, na esperança de que não se visse o sexo - sabia que nesse caso a probabilidade de ser rapariga era maior.

Começamos a ver a criatura, de lado, de frente, a borboleta que é o cérebro, o coração a bater rápido. Queriam ver os braços e as mãos mas ele com uma delas agarrada à mona, olho para o seu progenitor que tinha o braço no mesmo preparo. A hereditariedade lamarckista é surpreendente, peço-lhe já enervada que largue o cabelo para contarmos os dedos à criatura. Estranhamente o filho segue-o.


Perguntam-me se eu já tenho preferência por sexo, como não se até já há nome - o meu instinto maternal sabe carregar uma Maria Leonor no seu ventre. A médica olha para mim levantando as sobrancelhas, está a ver aqui as pernas abertas? Este alto grande no meio? Normalmente não se vê às 12 mas este não deixa dúvidas, tem pilinha.




No meio dos pulos e saltos que dava na minha barriga, e eu ainda sem sentir esta criatura com tanta genica e força de impulso, parece fazer do meu útero um recreio divertido, teve tempo de se virar de rabo para a câmara qual next geração rasca e melhorar o protocolo. Para além de se baixar e exibir o traseiro, abriu bem as pernas para se visse o que tem no meio delas. Mãe, Maria Leonor o c-asteriscos!. E depois continuou nas suas piruetas.

Acho-lhe graça. Sempre gostei de gente que luta pelo que é seu. O futuro promete belas e coloridas discussões.

terça-feira, abril 28, 2009

Conversa de gajas

Uma viagem de carro, quatro mulheres, conversas sobre tudo e nada.

- A Diana casou-se por aqui
- A Diana casou-se?
- Quem é a Diana?

Uma grávida, outra a amamentar, uma a pensar no assunto e a quarta farta de conversas de crianças.

- Tens de praticar os músculos do interior da vagina, senão com o parto natural essa porcaria alarga-se toda e ficas feita ao bife. Pensa que estás a empurrar uma ervilha lá no fundo, sem mexer os músculos do rabo

(todas em silêncio a tentar)

- Eles dizem para fazer isto até no trânsito, não é?
- Sim, mas desisti porque deixava sempre passar os sinais verdes e levava apitadelas.

(continuamos)

- Posso pensar antes numa pila? é que com ervilha tenho dificuldade em visualizar
- Sim, sim, eu também
- Podem pensar no que quiserem, é preciso é praticar

(concentradíssias em silêncio, cheias de medo do alargamento do canal)

- Olhem lá, isto não dá para excitar um bocado? É que não sei se é do vinho ou do pompoarismo, mas de repente parece-me que vocês estão a mais no carro...

Rimo-nos, abrimos a janela e suspendemos a coisa.

A que guia começa a ficar aflita, tem o leite a subir e nunca mais chegamos a casa para esvaziar as mamas na criança.

- Dói-me, isto começa a encher e fica duro. Apalpa lá aqui

E todas a mexer e a compararem com as suas, pois é, de facto.

- Ester, não queres ver o que te espera?
- Obrigada, já me chega daqui a uns meses. Não de desconcentres, estamos quase a chegar.

Já tinha saudades destas amigas.

quinta-feira, abril 23, 2009

Chapéus há muitos

Decidimos então ter chegado a altura de dizer a toda a gente. Descobri que ser mulher nos trinta estraga por completo o efeito surpresa do que tenho para dizer, ainda não acabei a frase "tenho uma novidade" e já me atiram "estás grávida!". Ou então, ainda não decidi qual a pior, olham-me como se fosse um milagre de Lourdes, salva in extremis da esterilidade para todo o sempre.

É coisa que aborrece um pouco, mas já delineei plano para combater a praga - anunciar outra boa nova só para despistar. Tenho uma grande novidade, descobri a cura para todos os cancros! ou Inventei a vacina para o HIV 1, e já estou a trabalhar para o 2, ou Encontrei uma solução para a crise económica mundial, ou mais prosaicamente Tenho úvula bífida, só 1% de caucasianos é que a têm, não é o máximo?

quarta-feira, abril 22, 2009

Apetites

Durante o ritual nocturno de espalhar hidratante por toda a área de pele que vai esticar e encolher (a parte do encolher rapidinha, sim?), coxas, ancas, barriga, mamas, sinto-me uma culturista brilhante e escorregadia, "apetecia-me uma rapariga" atirei-lhe, com a cabeça de lado meio lânguida para o convencer das vantagens.

Agora? responde supreendido, a tirar as medidas ao colchão.

Estou a falar da criatura, estás parvo?

Sei lá, não é suposto as grávidas terem apetites insólitos?

(nota mental: não voltar a ler a Happy com ele por perto)

segunda-feira, abril 20, 2009

Carrossel do oito

Voltou a acontecer. Vi o vídeo da já famosa Susan Boyle e comecei a chorar; claro, sempre menos que com o original espanhol do anúncio da coca cola, que ao segundo 30 me faz abrir as comportas e aos 45'' já estou a soluçar.


Vou passar os próximos meses assim ou posso esperar melhoras?

sábado, abril 18, 2009

Na televisão

Fui com as angústias caladas para a primeira ecografia. Se não estava dentro do útero, se o coração não funcionava, ou afinal dois ou mais inquilinos a incharem-me a barriga que já nem fecho o botão das calças sem ter chegado ao 2º mês, chiça.

Ele agarrou-se à Sábado, eu aproveitei para ler fantasias eróticas e escapadas sensuais na Happy. Ele espreitou ao ver o título "e se fizéssemos a três?", mas fingiu que continuava a dedicar-se ao caga opiniões rogeiro.

Mandaram-nos entrar e a mim despir-me toda da cintura para baixo. Ele nunca tinha ido a uma consulta de outra pessoa, ainda para mais com um homem a mexer-me nas partes baixas, não sabia bem onde se devia pôr nem para onde olhar. Por sorte há sempre tecto e paredes.

A enfermeira pediu-me para sentar na borda da almofada, enquanto me tapava com o lençol. O médico sentou-se do meu lado direito, ele do lado esquerdo. Começou a explicar que como ainda estava de pouco tempo (teoricamente entre 7 e 8 semanas) iria fazer a eco com sonda vaginal.

Nisto enfiou um preservativo na ponta da dita, besuntou com gel, ele ainda pensava será que lhe vai enfiar aquela coisa pela... Puf, já lá estava dentro.

Foi aí que o conhecemos, nem tivémos dúvidas.

Uma cabeça enorme, dois braços e duas pernas. Mexeu a sonda e vimos a coluna, depois o coração a bater a bater. Está de mais tempo do que pensava, disse-me. Afinal são 9 semanas e 1 dia. Ainda pensei em perguntar se não seria grande para a idade, mas achei que era capaz de ser cedo para sintomas de orgulho maternal e certeza da superioridade da prole. Que seja, 9 semanas e 1 dia, acho que consigo viver com isso. Deu-me cabo das contas, é o que é. Uma criatura cheia de vontade de ser, a passar todas as barreiras de controle que pensávamos ter garantido. Um início de vida com proactividade e determinação. A coisa promete.

quinta-feira, abril 16, 2009

Primeiros sintomas

Nada de enjoos ou nauseas como temia, nem dores em lado nenhum. Não fosse o período estar ausente e o persistente tracinho azul e nem dava conta do que se passa dentro de mim. Não? Bem, há uma zona que insiste em alterar-se.

De repente todos os meus soutiens se tornaram pequenos para tanto volume. As camisas deixaram de apertar; quer dizer os botões até entram na casinha mas o bocado de tecido entre dois parece uma gaita de foles exibicionista.

Ando na rua, tenho reuniões, encosto-me à secretária e de vez em quando plof, lá salta um mamilo que não se aguenta mais naquele bocado de tecido.

Estou cheia de medo do que se irá passar daqui para a frente, e temo bem ter de pedir o número ao estilista da Lolo Ferrari.

Não consigo encontrar nenhuma vantagem biológica ou fisiológica para este efeito secundário a tanto tempo de distância da amamentação, a única resposta é ser um bombom para o progenitor masculino da criatura que trago dentro de mim. Presumo que a vantagem evolutiva que dava às fêmeas seria a de impedir que eles fossem copular com outras no mesmo período, de forma a evitar que as inseminassem e assim tivessem mais filhos que competissem com os seus em recursos e protecção do pai.

Análises biológicas à parte, queixava-me deste fenómeno ao meu partner in crime enquanto me despia para dormir.

"Mas não, que disparate, não estão assim tão maiores, deixa cá olhar bem para.... WOHA!!!""

Portanto vou passar os próximos tempos a contemplar o meu umbigo, enquanto conseguir, está visto que quando a criança nascer vou deixar de o vislumbrar.

terça-feira, abril 14, 2009

O dia em que o tracinho azul apareceu

Mais de uma semana de atraso, coisa que nunca aconteceu nestes anos todos que levo de tortura mensal. O corpo ameaçava desatar a deitar a prestação devida mas nada de aparecer, decidi comprar o teste na farmácia para tirar o fantasma e esperar tranquilamente o comboio que insistia em atrasar-se.

Acordei, deitei os líquidos indicados na ponta absorvente do aparelho de plástico que não teve dúvida. Quando lá chegou por capilaridade o sinal positivo só faltava gritar. Que grande porra, urrei, vou lavar os dentes.

Ele entrou na casa de banho olhou para a cruzinha, parabéns, voltou para a cama onde ficou à minha espera.

Depois de nos olharmos e discutirmos alguns detalhes práticos sobre o que fazer, desatei em pranto. Não vou poder comer alface, gritei-lhe. Mas tu não gostas de alface, tentou. Sim, mas se quiser como-a, e agora não vou poder.

Três lenços de papel mais tarde abraçou-me com o seu sorriso bonito. Vamos ser pais, isto é uma coisa boa. Não me faças isto que volto a chorar, e se bem o disse melhor o fiz. Isto das hormonas é exactamente como o pintam.

sexta-feira, abril 10, 2009

Mais um

Sabem quais são, aqueles posts que não têm outro propósito que fazer constar aos leitores que ainda se está vivo apesar de não se ter tema, inspiração ou vontade de escrever no blog? Este é um deles.

sábado, abril 04, 2009

O que será? (À flor da pele)

Há algo de muito errado nos químicos que se passeiam pelas minhas veias. Passei o serão a ver os discursos dos óscares, desde a Audrey Hepburn com as Roman Holidays ao Voando sobre um ninho de cucos do Jack Nicholson, passando pelo Filadélfia do Tom Hanks e o Shindler's list do Spielberg, Há lodo no cais e o Marlon Brando lindo, e eu a chorar como uma parva.

sexta-feira, abril 03, 2009

Dreams are my reality

A meio da madrugada, quando estava a tentar adormecer depois de uma insónia inesperada ou acabada de acordar, não me lembro bem, cozinhei um texto para o blog que me pareceu genial. Ainda tentei levantar-me para o escrever nalgum lado, de tal forma brilhante me parecia aquele bocado de prosa, mas o cansaço ganhou-me. Depois do pequeno almoço tentei reconstrui-lo, tinha a ver com meter angústias e silêncios dentro de sacos de plástico com orelhas e atirar para o contentor verde antes da recolha do lixo. Lembro-me que das partes que mais me pareceram importantes na altura eram os detalhes das orelhas dos sacos, daqueles de supermercado, e dar-lhes dois nós apertados. Fora da fase REM a coisa não me pareceu tão poética. Talvez quando fizer um blog para pessoas com insónia a coisa tenha mais sucesso.

Entretanto lembrei-me do stand-up do Eddie Murphy de há 26 anos atrás. Sempre tem mais graça que os meus sonhos.