Enganados à saída do ferry, virámos para Tróia. Entre o espanto e o horror, vi como se erguem torres e prédios anárquicos e feios à beira mar, um sítio onde se vão repetir rituais citadinos, com vizinhos de cima e de baixo e vistas para o andar da frente.
Seguimos para baixo, até chegar a uma espécie de ainda idílio campestre. Numa casa de campo, com paredes grossas e janelas pequenas, gozei o som das ondas do mar enquanto hectares de cultivo se estendiam à minha frente. A terra trabalhada tem um aspecto de generosidade, de amor simbiótico entre o homem e a natureza.
Dias mais tarde uma mulher que me parecia velha, mas que afinal tinha apenas a minha idade, falava-me do sítio e das pessoas. Contou-me que vão fazer casas para a gente da cidade ir ali passar férias. Mas estes campos são vossos, disse-lhe ingénua. São todos alugados, contou-me. A maioria vai ser posta fora pelos donos, mas querem manter alguns porque os turistas gostam de os ver trabalhar a terra.
No dia anterior tinha feito corta mato por entre os campos, gozando o cheiro da terra, da rega, dos vegetais a crescer, o muu das vacas. Depois de saber que vão manter o agricultores como curiosidade arcaica senti-me envergonhada de o ter apreciado tanto, como menina da cidade.
Depois de uma caminhada por entre campos de milho e tomate, a terra do Alentejo entranhada nos meus pés.
(quando fotografei os pés sujos era para fazer um post jocoso sobre a moda do auto retrato e o elogio aos sapatos. depois aconteceram-me as políticas de agricultura e o ordenamento do território que me mirraram a gracinha. na realidade, aconteceram-me os alentejanos que cantam dentro de mim e me comovem até às lágrimas).
2 comentários:
É tão bom sair de casa, não é?
É, tão bom que decidi passar a viver sempre fora de casa. Adolescente de mim.
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