Já tinha aproveitado o assunto para fazer umas
graçolas sobre o tema. Mas parece que voltou à ordem do dia, e D. Ester sempre atenta, entre a manicure e a depiladora, consegue dar o seu ponto de vista sobre o assunto.
Como podem verificar pelo que a Jonas escreveu, a amostra de bloggers foi recolhida através dos links e comentários de um único blog, o que introduz aquilo que se chama viés num estudo. Ou seja, não se consegue ter uma amostra representativa da população que se pretende caracterizar (no caso os bloggers do Minho) apenas pelos que têm afinidades com uma pessoa só - a não ser que se parta do pressuposto que TODOS os bloggers do Minho estão linkados no dito blog e comentaram nos seus posts, em especial onde se discute esse tema transversal "petição pelo regresso do eléctrico".
Dado que as autoras do estudo se deram conta que não tinham base estatisticamente significativa, chamaram-lhe "um olhar sobre a realidade do Minho", advertendo que pretendem um contributo inicial para o estudo geográfico da blogosfera.
Podem ler-se nas considerações finais:
- Apesar das potencialidades que a blogosfera apresenta para a afirmação das vozes femininas, uma vez que este é um mecanismo de auto-edição, ainda se verifica um baixo nível de participação das mulheres a nível regional.
- O ponto de partida para esta análise é um blogue de um homem, com um forte pendor de intervenção regional, o que poderá deixar de fora do blogroll do ‘Avenida Central’ os blogues com outros centros de interesse, onde eventualmente a presença feminina seja mais numerosa
Pois, às tantas as bloggers minhotas interessam-se mais por temas nacionais.
Em relação às questões que os autores creem levantar com este estudo preliminar acontece uma coisa espantosa; em vez de se falar das mulheres do Minho extrapolam-se os resultados para a realidade nacional:
– Será que as mulheres estão afastadas da blogosfera ou alguns blogues assinados por homens conseguem maior destaque, mesmo nos meios de comunicação tradicionais, criando a ideia de que elas são menos activas no ciberespaço?
Em menos de 5 minutos consultei o top de blogues mais lidos em Portugal,
aqui. Não conhecia todos os blogues, mas fui ver quantos deles eram escritos, no todo ou em parte por mulheres. E não é que 12 dos 25 listados entravam nessa categoria? Reparem, fui à fonte de blogues mais lidos de todos, sem vieses de temas. E encontrei 48% de participação feminina na blogosfera. Há coisas incríveis, bem sei.
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– Será que os blogues de mulheres se concentram, de facto, em determinadas áreas tradicionalmente conotadas com a esfera feminina ou são os espaços dedicados a outras temáticas que não são (re)conhecidos?
É contar e catalogar: dos 9 que podem ser considerados de intervenção, 4 contam com mulheres na equipe. E entre os que falam de temas menos, hum, prementes, temos o wrestling galaxia a par e passo com o blog de artesanato. E Deus criou a mulher por oposição a crianças, jovens e adolescentes. A escolha é variada.
– Será correcto falar de blogues femininos e masculinos? Porque é que muitas escondem a sua ‘verdadeira identidade’ sob a capa de nicknames?
Verdadeira identidade entre aspas porquê? Pelo que leio, tanto homens como mulheres usam nicknames para assinar o que escrevem e o que comentam. Por uma razão muito simples: privacidade. E assim de cabeça, lembro-me de tantas mulheres como homens que assinam com nome e apelido. Entre as quais duas das autoras do estudo, que também blogam assumidamente. Mas não pretendo que os meus conhecimentos blogosféricos sejam representativos da realidade, haveria que fazer um levantamento completo. Decerto seria surpreendente para algumas pessoas.
– Será que a blogosfera está a funcionar como um mecanismo de reprodução dos estereótipos que foram sedimentados durante séculos? Ou poderemos encarar os blogues como ferramentas que estão a operar uma mudança social?
(coço a cabeça atrás da nuca antes de dar o meu modesto contributo a esta) Não sei de que estereotipos falam, tenho dificuldade em entender sequer a questão. Nos blogues as mulheres trabalham mais? Dedicam-lhes mais tempo? Ou será que tratam melhor os seus comentadores, são mais afáveis e simpáticas? São mais interessadas pelas questões educativas, usando os seus blogues como veículos de tradução da realidade?
Eu tinha achado o estudo divertido, engraçado, despretensioso, com vontade de integrar contributos para aumentar e melhorar o seu alvo, tornando-o eventualmente uma referência interessante. No entanto, ao fim da segunda apresentação pública sem revisão dos seus princípios e continuando a responder em tom jocoso às pessoas que questionam as suas bases não é uma forma séria de fazer aquilo que se propoem - ciência. Pronto, ciência social, mas ainda assim.
Parece-me que este é um terreno fértil para se fazerem inúmeros estudos e observatórios, mas uma coisa que se pede é seriedade para que possam ser levados em conta. Uma coisa que as autoras deste estudo estarão a descobrir com surpresa e agrado é que há muitas mulheres (não somos minhotas é certo, mas ainda assim) que têm voz e vontade de intervir - tal como elas parecem ter. Mas não basta ter boa vontade e fazer uns estudos por alto. De qualquer forma, com a visibilidade que estamos a ajudar a que tenham seguramente poderão prosseguir o estudo.