Apresento-me nas aulas de hidroginástica, visto-me no balneário e descubro que tenho de fugir com os olhos dos espelhos para evitar a visão ridícula das minhas curvas enfiadas naquele fato de banho demodé, acompanhado da espartilhante touca e andar à pinguim que já me começa a despontar dos tornozelos.
Sigo as restantes barrigudas pela piscina fora, como uma ave migratória a reconhecer caminho, com paragem no duche, e entro na pista que nos é destinada. Há que nadar só com braços ou só com pernas de um lado para o outro agarradas a um chouriço flutuante de cor garrida, depois das primeiras voltas em que sinto os músculos a funcionar começa a assaltar-me o síndrome barco a remos no campo grande, de vez em quando ultrapassada por uma austríaca que anda na bisga bem como, oh humilhação, uma que já está quase no termo mas que pelos vistos tem os bicepes em forma.
Olho com o desespero de uma naufraga em volta da piscina, à procura dos giraços que costumam salpicar os bons ginásios. É sabido que as pessoas se esforçam mais na presença de elementos do sexo oposto com aspecto lavado e atraente. Mas nada. Nem mulheres nem homens, apenas um gebo que deve ter passado há pouco dos 18 anos a fazer de vigilante das pistas onde estamos as grávidas com uma sensaborona quarentona a repetir "e vai", e dois ou três utilizadores livres que já gozam há bastante do desconto da terceira idade e a quem vejo com mais frequência agarrados à borda a ganhar fôlego que outra coisa.
No fim da aula sigo a austríaca, ave líder do bando, vou baralhada pelo cansaço e sigo-a para dentro de uma casa de banho em vez do balneário. Desculpo-me como consigo, ainda me resta um pouco de voz, lavo-me, visto-me e arrasto-me dali para fora.
Comeria um boi se tivesse forças nos braços para levantar o garfo e a faca, mesmo na ausência de Adonis parece que a ginástica faz efeito. Pelo sim pelo não deixo a minha recomendação no clube. É um borracho para a pista do canto, se faz favor - tenho uma austríaca para ultrapassar.