Já estou barriguda mas ainda não sinto a criatura. Insisto em pôr creme, agora duas vezes ao dia, com esperança. Continuo a engolir o folicil de manhã e a mastigar o cálcio depois do almoço. De resto tudo muito bem, sem enjoos nem chatices.
Bem, nem tudo. Começo a ter um nervoso miudinho pela amniocentese que se aproxima. Que se tudo corre bem na intervenção, se tenho de ficar quieta muito tempo, se o resultado vem com 46 cromossomas com os genes no sítio certo.
Ofereceram-me o primeiro par de meias e fiquei meia hora encantada de boca aberta a olhar para aquela maravilha. Neste momento ele cabe inteirinho dentro daquela organização de lã e algodão, mas há de chegar o tempo em que apenas um pé e outra em que nem isso. Olho para crianças na rua, miúdos já grandes e penso que um dia ele vai ter aquele tamanho. Será que vai gostar de almondegas com puré como eu?
As pessoas, especialmente as mulheres, contam-me as histórias mais insólitas e tolas. Que amamentaram até aos dois anos de idade da criança, que me tras à cabeça uma quase erotização da ligação mãe filho que me soa pouco saudável. Que a episitomia isto e a cesariana aquilo. Não quero saber, não perguntei, não me contem. Nem leio nada sobre o desenvolvimento embrionário nem sintomas da gestação, para não correr o risco de desatar a sentir coisas que não são as minhas.
Ando sem paciência para as parvoices que me acontecem no trabalho, e para gente tola que não sabe o que anda cá a fazer na Terra. Enterneço-me com pessoas atentas e gentis, e com os comentários simpáticos de quem passa no blog.
Tenho tido pouco tempo para cá vir e sinto-me culpada, mas a minha vida tem tido poucas graças para contar. Vou-me esforçar para que mude, que aborrecimento.
Hoje andei de saltos altos o dia todo, que me moeram os pés até os deixarem em estado de hamburger pronto a grelhar. Recuso-me a ser uma grávida pata choca enquanto o puder evitar. Uso vestidos justos e decotes generosos, que gritam que estou à espera de bebé mas não deixei de ser mulher. Olham-me com estranheza e curiosidade na rua. Dizem-me que estou bonita e eu gosto de acreditar que sim.
10 comentários:
Estás linda!
Eu sei que os meus olhos sempre te viram bonita, mas agora irradias vida, plenitude e gritas MULHER... da forma feromónica que sempre foi a tua!
Deixas saudades quando não estás e fazes-me sentir protectora de ti quando te tenho à minha frente!
Estás assim... eu diria, melhor que nunca!
Beijos
M.
Mesmo com uma certa melancolia, foi bom lê-la de volta!
Vai passar, vai passar...
Há que tempos que estou para vir aqui dar os parabéns, abraços e beijinhos!!!! Foi hoje.
Querida ester, é tão bom estar gravida, aproveita ao máximo, eu dou por mim imensas vezes a ter saudades das minhas barrigas e desse estado de ingenuidade e ansiedade, querer que passe depressa e ao mesmo tempo querer disfrutar de todos os pormenores... depois também é bom, mas é... diferente. tudo de bom.
Ester
A amniocentese não custa nada, nem se dá conta. A ansiedade a seguir custa um bocado mas a probabilidade de que tudo esteja muito bem é imensa. estar grávida é uma maravilha, aconselho vivamente.
Querida D. Ester,
Também lhe queria dar um beijo...
tu tranqui, que essas dúvidas são mais que normais, mas vai tudo correr bem. Um grande abracinho
eu TENHO A CERTEZA que está lindíssima!!!!!!!
querida,
eu faço-te as almôndegas, pode ser?
e se estás BEM bonita!
beijos mil
que queridas todas, obrigada.
Nove, a almondegas eu digo sempre sim! E o puto como está sempre aos saltos e aos pinotes deve dizer sim a qualquer coisa comestível, temo uma adolescência terrivel em termos alimentares.
Bossa nova, tens o condão de me ligar quando não posso atender, e tenho adiado o ligar de volta. Mea culpa, mea culpa.
Isabel, fiz ontem e foi das coisas que mais me custou na vida. Não sei se quero voltar a passar por isto, francamente... Ontem e hoje estive de molho, logo conto o périplo de sangue, suor e muitas lágrimas que escorreram por mim. Mas parece estar tudo bem, até agora. Com a determinação desta criatura em existir e sobreviver a furinhos na parede seguramente nada o trava, digo eu num misto de orgulho e medo.
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