quarta-feira, abril 27, 2011

The plastic menagerie

Só na sala encontrei 57 animais.

segunda-feira, abril 25, 2011

Abris

Quando era miúda era levada pela minha mãe às manifestações do 25 de Abril, comprávamos cravos, encontrávamos amigos, depois parava-se numa cervejaria das portas de santo antão e eu e minha irmã atacávamos os tremoços enquanto os grandes se distraiam nas imperiais e conversas.

Hoje conto levar os meus rapazes. Não há tanta gente como noutros tempos, perdeu-se o entusiasmo pelas conquistas de abril, o grito de fascismo nunca mais tomou outras intenções. Mas os tremoços e imperiais continuam garantidos.

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Cúmulo do otimismo

Anti-derrapantes em meias para recém nascidos.

domingo, janeiro 16, 2011

És o sonho que me faz vibrar

Pela primeira vez desde há quase dois meses consegui dormir 4 horas inteirinhas de seguida. Há esperança num futuro melhor.

sexta-feira, janeiro 14, 2011

Das vantagens da licença de maternidade

Estar fechada em casa com dois bebés tem algumas coisas boas. Não ouvi uma única anedota sobre a morte do Carlos Castro.

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Circo de fera

Não quis o destino genético que tivesse filhas. Mas quando o acaso fecha uma porta o engenho encarrega-se de abrir janelas, existem uma série de noras potenciais a quem poderei infernizar a vida.

domingo, janeiro 09, 2011

A vida num só dia

Mudei de casa, tive outro filho, não tenho tido tempo para me coçar e ainda menos para escrever. Parecendo que não dá um certo jeito ter duas mãos para usar o teclado e um cérebro funcional em vez de servido com ovos mexidos para o jantar.
Mas la, la, la, la, la ialalaialala, estou voltando.

segunda-feira, novembro 15, 2010

La vida te da sorpresas

Não sei o que mais me surpreende - se ter descoberto a existência de um Congresso Mundial de Ganaderos de Toiros de Lide, se o dito ir na nona edição.

sábado, novembro 13, 2010

É como se tivesse entrado em medicina

Para além dos incisivos e caninos que continuam a saltar, descubro-lhe nas gengivas uns molares lindos e perfeitos. Ah doçuras da sua mãe, lindo menino que até molares sabe fazer só-zi-nho.

quarta-feira, novembro 03, 2010

Se eu soubesse cantar era mais ou menos isto

The future is so bright I gotta wear shades

"Mas não se preocupem. Nas crianças desta idade a fome é suplantada pelo prazer de arreliar os pais"
- T. Berry Brazelton, "O grande livro da criança", capítulo um ano

sexta-feira, junho 11, 2010

Perdidos

No meu email "D. Ester - Dating at midlife: what you need to know". Midlife? Eles escreveram midlife e mandaram-me a mim? Dating at midlife, a mim, D. Ester? Humpf.

Achados

Em noites de insónia descubro o que acontece em casa enquanto eu estou normalmente a dormir. É uma espécie de teatro do aborrecimento mortal meets marcel marceau em jardim de estátuas, com cenografia tv cabo.

domingo, maio 23, 2010

Nomeados para os globos de ouro na categoria melhor grupo de música

Não tem nada que enganar. É dar o prémio aos Xutos todos os anos.

Sonhos que sonhei

No desta noite entrava uma performer que era notícia nos jornais. O seu número consistia em menstruar para cima de uma fotografia do Cristiano Ronaldo e depois atirá-la ao rio.

É no que dá ouvir entrevistas da Vera Mantero a dizer que o seu novo trabalho é menos hermético e mais explícito, no mesmo dia do programa "agora é que é".

segunda-feira, maio 03, 2010

Dias

Na semana passada fui aos correios e enquanto esperava o número do papelinho fui descobrindo lotarias, cartões, presentinhos e sugestões para o dia da mãe. Há onze anos que não sabia a que dia calhava, tive de perguntar à menina do guichet se sabia quando era. Fiquei a saber que é no primeiro domingo de Maio, diz que é sempre assim. Mal posso esperar pelo próximo ano para começar a receber retratos meus a lápis de cera.

(houve um ano em que decidi fazer uma tacinha para os brincos da minha mãe, em barro. estava na escola primária, disseram-me para fazer um rolinho comprido e ir enrolando, base e cilindro acima. no topo enfeitei com lindas bolinhas, todas diferentes todas iguais. lembro-me que não queria ajuda de ninguem, tinha de ser feito só por mim. claro que saiu todo torto, feio, só não caia para o lado porque foi cozido. amor de mãe é usar essa coisa a vida toda, achando que é lindo, adoro)

quinta-feira, abril 29, 2010

Ser mãe é

descobrir uma costela de avançado centro e começar a falar de mim mesma na terceira pessoa.

segunda-feira, abril 26, 2010

Misfits


Há anos que comprar soutiens é um tormento. "Não tem maior?" "Maior?!" respondem indignadas, "não, não, este é o maior que temos. Tem de lhe estar bem". Pois, mas na maioria das vezes não estava. E entre comprar um giro que deixa metade de fora e um soutien de velha, que faz pendant com uma elegante cinta, tenho preferido os primeiros, vá se lá saber porquê.



Descobri um sítio que se anunciava diferente. No dama de copas não apenas poderia encontrar soutiens bem bonitos, modernos e originais como me garantiam atinar finalmente com o meu tamanho, enquanto me tratavam de forma personalizada.



"Está lá um gajo a mexer-vos nas mamas é?", perguntou alegre o meu consorte, seguramente a pensar em todo um nicho de mercado que se lhe abria. "Não sejas parvo, claro que não. Quer dizer, acho. Hum, presumo que não"



E lá fui eu baixa chiado fora, decidida a enfrentar o desconhecido na esperança da sustentação correcta. Encontrei não só apenas mulheres (ufa), como muito simpáticas, disponíveis e com vontade de me ajudar a encontrar não um mas o soutien. A felicidade existe, afinal.


Descobri que sou um 32G, número que eu pensava reservado às porn stars siliconizadas e oxigenadas. Depois do choque inicial, a redescoberta do meu corpo com o suporte adequado ao meu tamanho foi de tal forma surpreendente que tive vontade de beijar a minha salvadora, mas depois de me ter ensinado a enfiar as mãos nas copas para ajustar o volume achei que podia ser mal interpretada. Limitei-me a invejar alguém cuja profissão é fazer os outros felizes.



Quando cheguei a casa senti-me uma feminista dos anos 60, ou uma groupie dos Beatles em véspera de concerto. Peguei nos soutiens quatro tamanho abaixo do meu que andei a usar este tempo todo e enfiei-os num saco.



With God as my witness, I shall never be misfitted again.

terça-feira, abril 20, 2010

Ser pais é

conseguir fazer amor entre as dores de dentes das 7h e o leite das 8 e meia da manhã. iupi.

sexta-feira, abril 16, 2010

Utilidades

Durante a licença de maternidade descobri o que dá na televisão durante o dia: montes de anuncios a detergentes. A maioria tem embalagens cor de rosa, e todos prometem ser os melhores no seu segmento. Entre o meu consumismo galopante e a maternidade a roer-me os neurónios por dentro estive quase a comprar aquele que limpa as carpetes em profundidade, que tira mesmo aquelas manchas pretas nojentas que se enfiam na base das cerdas, que sacam cotão encastrado e deixam tudo num brinco que se pode lamber. Só me contive quando me lembrei que nem tapetes tenho.

segunda-feira, abril 12, 2010

Estas mãos


Estas mãos que abrem e fecham como as dos grandes, que têm unhas que crescem e dedos que abrem, ontem apanhei-o a praticar a pinça com o indicador e polegar numa delicadeza comovente de cerzideira. Estas mãos que me tocam devagarinho, que recusam e aceitam, que experimentam e procuram, ontem aprenderam a chapinhar na água do banho provocando uma felicidade até então desconhecida.

Estas mãos, que são iguais às minhas que são iguais às do meu pai, talvez ainda venham a ser como as dos meus netos.

domingo, março 14, 2010

O traumatizador acidental

Quando o miúdo precisa ser distraído eu canto, danço, abano-lhe coisas com barulho, abro muito os olhos e a boca, digo pffffffffff e vrrrrrrrrr e dzzzzzzzzzz.

O pai assobia-lhe o winds of change.

sexta-feira, março 12, 2010

Fazer

o que é que ele já faz? é a pergunta que me têm feito ultimamente. Quando respondo "contas de dividir e multiplicar" não me acreditam, parece que estão mais interessados na sua capacidade de rebolar pelo chão ou de se sentar sem apoio.

terça-feira, fevereiro 09, 2010

Po-de-ro-sa!


Ora ora, que precisa uma mulher nos limites da sanidade mental, enfiada em casa há três meses e meio com uma criatura que fala como um golfinho e tem um sorriso desdentado? Que a chamem de poderosa, pois claro. E não é que foi isso mesmo que me fizeram? Quem tem amigos tem tudo, não haja dúvida.

Contando a história toda: a Joana Lopes incluiu-me num lote de cinco poderosas a quem passar a corrente exclusiva de meninas. Para além de ter começado imediatamente a trautear o MC Marcinho (um marco na história musical) cá fica a continuação da corrente e mais cinco poderosas que levam com o martelo pneumático da dita:



- a Siona do fishspeakers, tenho tantas saudades de a ler

- a sms do cocó na fralda, (ai tanto cocó que eu tenho mudado - e o paranoica que fico quando não há cocó?). Alguém que tem três filhos, trabalha comó catano, atira-se a freelancer e ainda tem tempo para o blog não é poderosa - é poderosíssima.

- a Magda que deixou tudo e foi para o Brasil à procura de si.

- a Shyznogud do Womenage a trois (Joana, juntas venceremos!), a ver se se deixa de armar em nomeada aos Grammys e volta à casa partida, oh vá lá

E agora, a pedido de várias famílias, MC Marcinho - não sem antes deixar a frase Sou poderosa, pois claro que sou. Dúvidas?



quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Caixa de sugestões

Aproveita para dormir ao mesmo tempo que ele, é o conselho generalizado.
Eu acho que até sou boa mãe, mas não consigo ter uma existência quântica para poder dormir, comer, tomar banho, fazer cocó, depilar-me, ir ao cabeleireiro, arrumar a casa, fazer as compras, lavar roupa, cozinhar uma sopa, organizar o quarto do miúdo, ler e responder a mails e escrever posts no blog enquanto ele dorme a sesta de 1 hora.
Aceito sugestões.

terça-feira, janeiro 26, 2010

Motivos de orgulho

A médica disse que eu tinha de pôr mais hidratante porque a pele dela é utópica, disse-se na sala de espera de pediatria.

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Evidentemente

Evidentemente, é a mamã que se ocupa de tudo, é ela que cuida da minha higiene pessoal com carícias de verdadeiro bem-estar.

in Guia Prático do Crescimento Chicco, Edição 2008 nº 59, pag. 53

sábado, janeiro 16, 2010

Aqui jaz

Esta madrugada enquanto dava de mamar em estado comatoso, com o bebé enroscado em mim no meio dos lençóis de flanela, escrevi e corrigi um post que achei do melhor que fiz desde há muito. Ao chegar ao computador o brilhantismo tinha-se esfumado, e aqui apenas jaz a ideia do que podia ter sido e afinal não.

quinta-feira, janeiro 14, 2010

Cidade

"O carrinho mais prático e versátil, super compacto quando dobrado, ideal para um uso citadino frequente. " venderam-me. Eu comprei.

Esqueceram-se de acrescentar que o uso citadino frequente exclui Lisboa e a calçada portuguesa. Para conseguir o estatuto de citadina feliz col bambino tenho de me resignar a ser uma rapariguinha do shopping.

segunda-feira, janeiro 11, 2010

Confesso


Sou daquelas mães que põem o dedo à frente das narinas do bebé enquanto está a dormir (demasiado quieto há demasiado tempo, medida rigorosa e científica), para se assegurar que continua vivo e a respirar.

sexta-feira, janeiro 08, 2010

Mais difícil ainda



A passear com o miúdo no carrinho, de sapatos de sola de pele e saltos altos. Orgulhosa no meu andar e cada vez mais confiante, atendo o telemóvel e ala centro comercial fora a fazer inveja a muito polvo. Já de saída para o carro enfrento um tapete rolante descendente. Ainda hesito um pouco, sempre estou de saltos altos, a empurrar um carrinho de bebé e a falar ao telefone, talvez fosse bom esperar. Mas não, a super mulher Ester não se acanha diante de uma qualquer adversidade e abre os olhos frente ao precipício, caindo verticalmente no vício.

Crianças, não tentem isto em casa!

Descobri que não apenas as rodas dos carrinhos deslizam no tapete como as minhas lindas botas de sola lisa, pelo que tive de me agachar agarrada aos manípulos do carro para o/me/nos parar. Entre a posição de galinha chocadora e os gritinhos histéricos, entremeados com "já te ligo", toda a compostura de MILF gabardine esvoaçante e saltos altos se foi, mas evitei a entrada directa no carro através dos vidros do estacionamento, sem passar na casa partida e sem pagar dois contos.

terça-feira, janeiro 05, 2010

O amor em tempos de férias

A conjugalidade de todos os dias tem qualquer coisa de esquizofrenia de trazer por casa. É óptimo mas de vez em quando apetece-me matá-lo.

domingo, janeiro 03, 2010

Das vantagens da maternidade

Acordar no dia 1 de Janeiro com o sol ainda a levantar-se e sem ressaca. Almoçar com a família e gozar o concerto de ano novo sem desejar que o homem dos pratos tenha um avc fulminante.

sábado, janeiro 02, 2010

A importância do tamanho

O encurtamento da minha prosa é da unica e exclusiva responsabilidade do ser minúsculo que pari há coisa de dois meses. Tenho esperança que com o aumento de tamanho do bicho eu vá ganhando autonomia para respirar pensamentos mais longos que um parágrafo.

Se não conseguir peço-vos que façam um requerimento em papel azul de 25 linhas dirigido ao catraio. Tem ar de ser sensível a pedidos formais com um toque de anacronismo.

sexta-feira, janeiro 01, 2010

Everyday is christmas and every night is new year's eve

Ter feito uma pessoa dentro da minha barriga pôs definitivamente os festejos de fim de ano no sítio onde pertencem. Uma boa desculpa para passar uma noite com os amigos.

O meu ano novo começou em Outubro.

terça-feira, dezembro 22, 2009

Ossos do ofício

Há quem faça calos nos dedos de tanto escrever com o próprio punho. Os cavadores ganham-nos nas palmas das mãos, os caminhantes nas solas dos pés.

O meu filho tem um na boca.




Resta-nos saber se é tudo fome ou se anda a alimentar um édipo como deve ser.

domingo, dezembro 20, 2009

Um bocadinho

De cada vez que me dizem oh D. Ester, o seu filho é lindo, em vez de agradecer como me compete concordo efusivamente pois é! Às vezes nem espero que digam nada, atiro logo um ele é tão bonito com o qual as pessoas são obrigadas a concordar.

Ando a tentar pôr em contacto o meu coté maternal com a costela de boas maneiras, e quando se encontrarem pode ser que consiga começar a dizer obrigada com um ar tímido-embaraçado, ou eu também acho mas sou suspeita, ou se chegar ao nível três já reparou como ele tem as orelhas um bocadinho de abano?

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Tremores

Quarta à noite, família toda na cama enquanto se aleita o rebento.
- Estás a sentir?, perguntou-me ele
- A sentir o quê?
- Isto!
- Se parares de abanar a cama talvez consiga sentir...
- Não sou eu que estou a abanar a cama.

Silêncio

- Se não és tu, achas que temos poltergeist em casa? (estava mesmo a falar a sério, resquícios dos anos 80, vítima de Spielberg em 1º grau)
- Acho que é um tremor de terra, avançou ele.
- Que disparate, deve é ser a máquina de lavar a roupa que está a centrifugar fora do sítio, vai lá ver. (e o mais extraordinário é que apesar de isso nunca ter acontecido ele foi mesmo. Não era)

O bebé continuava a mamar que Deus lhe dava e nós começámos a fazer planos de emergência.
- Se for um terramoto à séria vamos para a rua e levamos o bebé no sling, achou ele
- Com a quantidade de prédios à volta ainda apanhamos com um tijolo na mona, acho melhor ficarmos em casa. Quer dizer, se as paredes não cairem...

Olhamos um para o outro, pensando que talvez as paredes caiam mas se não falarmos no assunto pode ser que se aguentem.
- Vou à internet para saber o que se está a passar.

E foi assim que o facebook e o twitter me salvaram de uma noite passada na rua de bebé a tiracolo, a fugir de putativos blocos de cimento. É no que dá ver trailers de filmes catástofre antes de ir para a cama.

terça-feira, dezembro 08, 2009

Always look on the bright side of life

Acordar a meio da noite com choro insistente, mudar a fralda, dar de mamar, pôr a arrotar, tranquilizar, voltar a dormir.

No meio de tanto verbo ele olhou pela janela ao voltar para a cama. Ainda com os olhos a meia haste atirou-me há coisas bem piores que ter um bebé. São 7h30 da manhã, está um frio de rachar, chuvisca e há um tipo a passear dois cães na rua. Ao menos o nosso faz chichi dentro de casa.

quarta-feira, dezembro 02, 2009

Eles

Esta manhã passei oficialmente a ser um deles: limpei o queixo do meu filho com um bocado de cuspo na ponta de um dedo.

sábado, novembro 21, 2009

MILF

Neste verão o meu sobrinho ao ver as minhas amigas à beira mar porque é que as mães são todas gordas?

Ainda pensei explicar-lhe o conceito MILF e como eu conto entrar nele o mais breve possível. Mas considerando que ele ainda não chegou a uma idade de dois digitos e acha beijos com língua uma nojeira dos filmes, achei prudente evitar a conversa.

Ao passear-me na minha hora de liberdade pelas ruas dos quarteirões deste bairro fui piropeada por um adolescente - o que para uma velhota de 35 anos é um elogio do caneco. O pior foi a frase que ele escolheu para me mimosear. Eh lá, belas maminhas a uma mulher a amamentar convenhamos que dá vontade de responder my son's thoughts exactly.

domingo, novembro 15, 2009

Twilight zone

Fenómenos estranhos que se dão com a chegada de crianças a uma casa. Os pais passam a ver e ouvir muito menos, as mães muito mais.

quarta-feira, novembro 11, 2009

Me, te, se

Porque raio se usa o pronome reflexo pendurado nos verbos das crianças, como se houvesse uma conspiração dos infantes contra as suas progenitoras e uma intencionalidade malévola na acção?

Dou por mim a dizer disparates como "ele dormiu-me" ou "ele faz-me". Se me descuido um dia acordo e estou a vestir roupa de andar por casa, calçar chinelos e resmungar uns ai a minha vida pelos cantos, nos intervalos de comentar a meteorologia com as vizinhas e de reclamar que o almoço é servido à uma. Em ponto.

terça-feira, novembro 10, 2009

O melhor do mundo

Ontem precisava de ovos e de desopilar, dei o meu passeio higiénico pelo sapateiro, correios e banco deixando a criança nos braços do pai. Estou de tal forma aparvalhada que entrei num supermercado de bairro com dois corredores e fiquei de boca aberta com as formas e as cores das embalagens nas prateleiras, isto é tão giro que saudades tinha de vir às compras, pensei.

De facto,

Obrigada Shyz

domingo, novembro 08, 2009

New blue eyes

Depois de semanas de contracções e mau estar, em quatro horas apenas o miúdo resolveu a questão. Tive tempo para tudo, para as dores de alucinar e pensar que perdia o juízo, para a salvação terrena da epidural (por um triz não beijei o anestesista de gratidão), para o empurra empurra com o progenitor a ajudar, até chegar à sensação mais bonita que me foi dada até hoje - a do meu filho sair-me de dentro.

Puseram-mo em cima da barriga para o bonding mas esqueceram-se de mo virar de frente, queriam à força que me apaixonasse por uma nuca. Tive de gritar que não o conseguia ver para que o enfermeiro tivesse dó de mim e aí sim, ficámos os dois a olhar um para o outro, com que então és tu era o que se lia em cada um de nós. Tirámo-nos as medidas para termos a certeza de que não nos trocavam na maternidade (eu feliz por ele ter uma grande marca na testa para facilitar o processo), enquanto o pai lhe dava a independência cortando o cordão umbilical (nada me tira da cabeça que o miudinho vai usar esse argumento para lhe sacar o carro para andar pelas naites quando chegar a hora).

Agora andamos a conhecer-nos. Há dias mais fáceis que outros - hoje está como um santo a sorrir na alcofa enquanto dorme, faz apenas uns barulhinhos que me faziam saltar da cama para ver se era uma macueca mas aos quais já me habituei. Tem um ar feliz assim.

Noutras alturas chora desalmadamente e eu não sei que lhe hei-de fazer, tenho de ir por tentativa e erro e nem assim acerto. Rendo-me, ficando com ele no colo a embalar até que se acalme ou desista.

Ainda temos muito a aprender um com o outro. Como todas as mães neofitas tenho medo de fazer asneiras e mortifico-me quando acho que alguma coisa não correu bem e a culpa foi da minha aselhice. Para me consolar dizem-me que o quer que faça vai ser sempre pouco aos seus olhos adolescentes. Encolho os ombros e penso nos seus olhos de adulto inteligente e sensato. Mas o melhor mesmo é poder ficar horas a contemplar o fabuloso azul cor do mar em dia chuvoso que tem agora. Para a semana logo se vê se mudam de cor.


terça-feira, outubro 20, 2009

Na próxima vida

- Já descobri o que quero ser na próxima vida. Ser mamífero dá muito trabalho, carregar a criatura mais de nove meses na barriga e ainda ter de o alimentar do meu corpo. Não, na próxima encarnação quero pôr ovos, já viste o prático que deve ser? É só pô-los, sentar-me em cima deles durante o dia, sem dor nem inchaço nem retenção de líquidos ou contracções durante semanas antes do parto, até dá para pôr o pai ou outro qualquer sentado em cima deles enquanto não chega o dia em que chocam sem dor nem sangue ou anestesias. Uma codorniz, que tem ovos pequeninos, é isso mesmo. Amanhã ligo aos tibetanos para saber que asneiras tenho de fazer para reencarnar em pássaro.

- E se fosses homem?

(silêncio longo)

- Nem me tinha ocorrido.

terça-feira, agosto 04, 2009

Canta a minha alma

Há um ano era assim - começava este blog e eu ia de férias. Hoje foi assim:


Passado este tempo tenho uma pessoa a ser feita dentro da minha barriga, defendi a tese de doutoramento (aprovada com os salamaleques do costume) e estou outra vez de férias. Mais a sul mas sempre em praias maravilhosas. 

No regresso a casa e já com a primeira desova do ano completa, voltarei a dar ímpeto a este blog. Até lá trabalharei arduamente para o bronze, das zonas em que a pele não estica e encolhe e me assustam com vaticínios de panos e coisas terríveis. 

sexta-feira, julho 24, 2009

Greve ao parto

Estou a adorar estar grávida. Se este sair (gostaste do se?), fazemos outro logo a seguir.


(pum. caiu para o lado)

segunda-feira, julho 20, 2009

Win some, lose some

A barriga já ultrapassou o diâmetro psicológico da copa do soutien, o que me permite pela primeira vez em anos poder contemplar o meu umbigo. Em compensação deixei de conseguir ver se tenho a depilação das virilhas bem feita por muito que me dobre.

segunda-feira, julho 13, 2009

Excitação e histeria

Acabam de me dar uma data. 30 de Julho. Passarei a ser doutora por extenso. Estou excitada, com medo, nervosa, ansiosa, aliviada. Ao pé deste parto, o do meu filho vai ser com certeza um passeio no parque.

domingo, julho 12, 2009

Havia alguma necessidade de me contarem isto?

A gravidez está a fazer-me descobrir coisas horripilantes. Que as mulheres gostam de partilhar, numa passagem de testemunho hedionda e sem sentido. Por exemplo, ontem à noite


Estás mesmo gira, a barriga está enorme e maravilhosa. Não te preocupes que depois dele nascer isso diminui tudo. Uma vez quando a minha tinha para aí um mês eu estava sentada na poltrona toda contente porque a barriga já estava como antes, e depois levantava-me e plof, as peles caiam-me pela cintura abaixo. Mas ao fim de um ano vai ao sítio.

Este não é o género de coisas que uma primigesta está interessada em ouvir. O que quer que seja que vá acontecer de horrível, feio, chato e complicado hei de descobrir por mim. E até pode ser que o destino, tac, me poupe a tão triste fado.

Em contrapartida os homens são uns bacanos, o máximo de conversa que fazem é para saber o sexo da criatura. E dizerem-me que estou com umas mamas fenomenais.

quarta-feira, julho 08, 2009

Para as curvas

Barbara Hendricks, 60 anos.



Não sei se fez um pacto com o diabo ou se usa a mesma fotografia há 20 anos. A conferir esta noite, no Jardim do Palácio do Marquês do Pombal.

Conjugalidades

- Ei, quando é que pintaste as unhas dos pés? Estão giras
- Há mais de uma semana

segunda-feira, julho 06, 2009

Genuína preocupação filial

Parece que os bebés gostam de se mexer especialmente quando as mães estão paradas, em particular quando querem dormir. Há quem diga que é a sua altura, há quem defenda antes que têm queda natural para começar a infernizar a vida dos pais e começam a praticá-lo in utero. Venho hoje aqui apresentar uma nova tese: a da genuína preocupação filial.

Eles passam o dia a sentir-nos mexer, falar, rir, gritar, e a uma dada altura nada. Tudo quieto. Nem um aceno de braço para amostra. É apenas natural que a criatura pense "oh diabo, queres ver que a minha velhota quinou?" e começam aos coices até conseguirem uma resposta.

Já estou a preparar uma comunicação para o Journal of Obstetrics and Ginecology, acho que os referees vão apreciar.

sexta-feira, julho 03, 2009

This one’s from the heart

Uma múltipla lançou a ideia do desafio do oráculo do ipod aleatório. Eu que adoro premonições, frases sábias e confúcias como respostas a perguntas concretas não podia falhar.


Diz que as regras são
1. put your itunes / ipod (or your mp3 player of choice) on shuffle.
2. for each question, press the next button to get your answer;
3. YOU MUST WRITE THAT SONG NAME DOWN NO MATTER HOW SILLY IT SOUNDS!


Então cá vai


IF SOMEONE SAYS "IS THIS OKAY" YOU SAY?
Aqui na terra, Clã

WHAT WOULD BEST DESCRIBE YOUR PERSONALITY?
Guerra Santa, Gilberto Gil

WHAT DO YOU LIKE IN A GUY/GIRL?
Don’t go into the barn, Tom Waits

WHAT IS YOUR LIFE'S PURPOSE?
De esquina, Cássia Eller

WHAT IS YOUR MOTTO?
Computer blue, Prince and the revolution

WHAT DO YOUR FRIENDS THINK OF YOU?
The horizon has been defeated, Jack Johnson

WHAT DO YOU THINK ABOUT OFTEN?
The fall of Troy, Tom Waits

WHAT IS 2+2?
Dançar na corda bamba, Clã

WHAT DO YOU THINK OF YOUR BEST FRIEND?
Zé trindade, Skank

WHAT DO YOU THINK OF THE PERSON YOU LIKE?
Stranger on Earth, Lisa Ekdahl

WHAT IS YOUR LIFE STORY?
With every wish, Bruce Springsteen

WHAT DO YOU WANT TO BE WHEN YOU GROW UP?
Something more, Mark Lewis and the Standards

WHAT DO YOU THINK WHEN YOU SEE THE PERSON YOU LIKE?
Cuccurucucu Paloma, Caetano Veloso

WHAT DO YOUR PARENTS THINK OF YOU?
Dá-me lume, Jorge Palma

WHAT WILL YOU DANCE TO AT YOUR WEDDING?
Who wants to be a millionaire? The Thompson twins

WHAT WILL THEY PLAY AT YOUR FUNERAL?
The will to live, Ben Harper

WHAT IS YOUR HOBBY/INTEREST?
De cara a la pared, Llasa de Sela

WHAT DO YOU THINK OF YOUR FRIENDS?
La canzione del amore perduto, Fabrizio di André

WHAT'S THE WORST THING THAT COULD HAPPEN?
Balada, Camané

HOW WILL YOU DIE?
En la casa, Gabriel o Pensador

WHAT IS THE ONE THING YOU REGRET?
Don’t, Seu Jorge

WHAT MAKES YOU LAUGH?
Tell it to me, Tom Waits

WHAT MAKES YOU CRY?
Bow down, Housemartins

WILL YOU EVER GET MARRIED?
Oran Marseille, Khaled

WHAT SCARES YOU THE MOST?
El viento, Manu Chao

DOES ANYONE LIKE YOU?
Pela internet, Gilberto Gil

IF YOU COULD GO BACK IN TIME, WHAT WOULD YOU CHANGE?
That was your mother, Paul Simon

WHAT HURTS RIGHT NOW?
Goodnight Irene, Tom Waits

WHAT WILL YOU POST THIS AS?
This one’s from the heart, Tom Waits & Crystal Gayle

(o facto de ter a discografia completa do Waits no ipod é capaz de introduzir algum viés nesta coisa)

quinta-feira, julho 02, 2009

Deus não dorme

Enviou-me um arcanjo em forma de vintão nadador de mariposa, duas filas ao lado. Enchi-me de forças e ultrapassei pela primeira vez a austríaca. O facto de ela estar a 3 semanas do parto e não poder com uma gata pelo rabo é apenas um detalhe. Right.

terça-feira, junho 30, 2009

Em forma de assim

Há uns tempos a minha velhíssima avó foi parar ao hospital com uma hemorragia do caraças. Eu e os meus primos lá fomos a correr, para o que fosse preciso. O meu tio mais novo, em completa negação da orfandade iminente, tentou traquilizar-nos (se?) dizendo que as pessoas não morriam assim de um momento para o outro.

Ficámos sem palavras para lhe explicar que é exactamente assim que se passa. Num momento estamos cá e noutro, às vezes sem um pré-aviso sequer, pumbas já era.

Nesta semana foi a Farraw, depois de anos de doença, o Michael, pumbas, e agora a Pina Bausch - 5 dias depois do diagnóstico.

Eu cheia de vida dentro de mim, só me apetece gritar take me away from all this death. A ver se há um drácula que me valha.

segunda-feira, junho 29, 2009

Ser mulher é

numa pausa entre a correcção do capítulo 5 e 6 da tese, ir à casa de banho pintar as unhas dos pés.

sábado, junho 27, 2009

PYT

Do Thriller esta era uma das minhas preferidas. Tinha a certeza que a cantava só para mim de cada vez que a agulha do pick-up passava pela faixa 8, lado B.

Com ele aprendi o que significa TLC - tender love and care. Nunca lhe fizeram um vídeo, o que é a prova definitiva de que era a única destinatária desta letra e música.




A sua música e dança, a provarem a imortalidade do génio.

sexta-feira, junho 26, 2009

It's Charlie, Angel. Time to go to work

Adorava esta série. Desejava ardentemente ser tão elegante e perfeitinha como a Jaclyn Smith, e detestava a beleza loira inatingível da Farraw Fawcett e o seu penteado à Margarida Marante. A Kate Jackson não me parecia concorrência difícil. (competitiva a menina, heim?)



Para além do Michael Jackson, ainda me estou a recompôr do choque, ontem também morreu a Farraw. Tinha 62 anos e um cancro do cólon.

sexta-feira, junho 19, 2009

Ele

Um dia comecei a senti-lo. Primeiro tímido, um safanãozinho por dentro da barriga. Depois mais uns quantos, como se fosse um hamster às voltas numa roda de plástico. Habituei-me a esses sinais de vida que vão aumentando de intensidade, a sua prova de existência diária.

Ainda estamos em estado de graça um com o outro, não me chateia nem me pesa demasiado. Ando toda inchada mas apenas de orgulho pela quantidade de vezes por dia que oiço quão bonita me faz esta gravidez, mais porque de facto o sinto. Sinto-me bonita e atraente, feminina e elegante, com uma barriga orgulhosa e um sorriso que o demonstra.

Deitada no sofá enroscada com o autor da sua existência com a mão na minha barriga, sentiram-se pai e filho. A ateíssima trindade começou.

quarta-feira, junho 10, 2009

As aulas

Apresento-me nas aulas de hidroginástica, visto-me no balneário e descubro que tenho de fugir com os olhos dos espelhos para evitar a visão ridícula das minhas curvas enfiadas naquele fato de banho demodé, acompanhado da espartilhante touca e andar à pinguim que já me começa a despontar dos tornozelos.

Sigo as restantes barrigudas pela piscina fora, como uma ave migratória a reconhecer caminho, com paragem no duche, e entro na pista que nos é destinada. Há que nadar só com braços ou só com pernas de um lado para o outro agarradas a um chouriço flutuante de cor garrida, depois das primeiras voltas em que sinto os músculos a funcionar começa a assaltar-me o síndrome barco a remos no campo grande, de vez em quando ultrapassada por uma austríaca que anda na bisga bem como, oh humilhação, uma que já está quase no termo mas que pelos vistos tem os bicepes em forma.

Olho com o desespero de uma naufraga em volta da piscina, à procura dos giraços que costumam salpicar os bons ginásios. É sabido que as pessoas se esforçam mais na presença de elementos do sexo oposto com aspecto lavado e atraente. Mas nada. Nem mulheres nem homens, apenas um gebo que deve ter passado há pouco dos 18 anos a fazer de vigilante das pistas onde estamos as grávidas com uma sensaborona quarentona a repetir "e vai", e dois ou três utilizadores livres que já gozam há bastante do desconto da terceira idade e a quem vejo com mais frequência agarrados à borda a ganhar fôlego que outra coisa.

No fim da aula sigo a austríaca, ave líder do bando, vou baralhada pelo cansaço e sigo-a para dentro de uma casa de banho em vez do balneário. Desculpo-me como consigo, ainda me resta um pouco de voz, lavo-me, visto-me e arrasto-me dali para fora.

Comeria um boi se tivesse forças nos braços para levantar o garfo e a faca, mesmo na ausência de Adonis parece que a ginástica faz efeito. Pelo sim pelo não deixo a minha recomendação no clube. É um borracho para a pista do canto, se faz favor - tenho uma austríaca para ultrapassar.

terça-feira, junho 02, 2009

Já sereia não sou!

Comprei um fato de banho modelo tia-avó que nada bruços de cabeça de fora como os perdigueiros para não estragar a mise.

Experimentei-o e fiz a asneira de me olhar ao espelho, transformei-me numa visão dantesca de mulher disforme, com as curvas todas apertadas numa malha de nylon espartilhante e anti-sensual.

- Querido, fico horrível com o modelo novo

- Óptimo. Para gira já bastam os outros.


(nota mental: nunca deixá-lo apanhar-me viva com esta porcaria agarrada à pele)

terça-feira, maio 26, 2009

This is dedicated to the one I love

Esta tese é dedicada ao meu Avô

Médico, professor, investigador
amante das coisas belas, na natureza e na arte,
a minha fonte inesgotável de amor e de desafios intelectuais.

Enquanto dava voltas à prosa para lhe dedicar o volume, cheio de coisas incompreensíveis para a maioria dos mortais (e para os imortais também, mas não creio que esses o venham a folhear), reli o que me escreveu quando me ofereceu a sua tese.

Para a "Favorita",
do Avô

Entre lágrimas e saudade, lá consegui acabar a dedicatória. Há muitas pessoas que o fazem "à memoria de", mas isso para mim não faz sentido. Eu não quero relembrar o que restou dele nos meus neurónios, quero que ele fique por tudo o que foi, pessoa inteira cheia de defeitos e muitas mais qualidades. Um homem difícil que para mim era simplesmente encantador. Faz-me falta todos os dias, mas está sempre presente. Mesmo que me tenha feito a desfeita de se ir embora.