sábado, agosto 09, 2008

Brandos costumes

Lembro-me de cortar relações com uma menina na escola primária. Não me lembro da ofensa, mas sei que tinha qualquer coisa a ver com um estojo de canetas de feltro, um diz que disse que ela fez uma coisa que nunca existiu ou que era suposto ser segredo. Inventámos um ritual na hora, eu insistia que era necessário, que era assim que se fazia. Lembro-me como se fosse agora. Ela chamava-se Anita, tinha cabelo curto e escuro e ria muito. Nessa tarde estava séria. Eu fiz uma tesoura com a mão e cortei o cordão invisível que nos unia, anunciei já está, já não somos amigas. Nunca mais soube dela.


Carrego comigo a sensação desagradável daquela tarde no recreio. Por causa da Anita não voltei a cortar relações com ninguém. Quando me desinteresso afasto-me devagarinho, como os cacilheiros ao fim do dia.

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