terça-feira, dezembro 22, 2009

Ossos do ofício

Há quem faça calos nos dedos de tanto escrever com o próprio punho. Os cavadores ganham-nos nas palmas das mãos, os caminhantes nas solas dos pés.

O meu filho tem um na boca.




Resta-nos saber se é tudo fome ou se anda a alimentar um édipo como deve ser.

domingo, dezembro 20, 2009

Um bocadinho

De cada vez que me dizem oh D. Ester, o seu filho é lindo, em vez de agradecer como me compete concordo efusivamente pois é! Às vezes nem espero que digam nada, atiro logo um ele é tão bonito com o qual as pessoas são obrigadas a concordar.

Ando a tentar pôr em contacto o meu coté maternal com a costela de boas maneiras, e quando se encontrarem pode ser que consiga começar a dizer obrigada com um ar tímido-embaraçado, ou eu também acho mas sou suspeita, ou se chegar ao nível três já reparou como ele tem as orelhas um bocadinho de abano?

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Tremores

Quarta à noite, família toda na cama enquanto se aleita o rebento.
- Estás a sentir?, perguntou-me ele
- A sentir o quê?
- Isto!
- Se parares de abanar a cama talvez consiga sentir...
- Não sou eu que estou a abanar a cama.

Silêncio

- Se não és tu, achas que temos poltergeist em casa? (estava mesmo a falar a sério, resquícios dos anos 80, vítima de Spielberg em 1º grau)
- Acho que é um tremor de terra, avançou ele.
- Que disparate, deve é ser a máquina de lavar a roupa que está a centrifugar fora do sítio, vai lá ver. (e o mais extraordinário é que apesar de isso nunca ter acontecido ele foi mesmo. Não era)

O bebé continuava a mamar que Deus lhe dava e nós começámos a fazer planos de emergência.
- Se for um terramoto à séria vamos para a rua e levamos o bebé no sling, achou ele
- Com a quantidade de prédios à volta ainda apanhamos com um tijolo na mona, acho melhor ficarmos em casa. Quer dizer, se as paredes não cairem...

Olhamos um para o outro, pensando que talvez as paredes caiam mas se não falarmos no assunto pode ser que se aguentem.
- Vou à internet para saber o que se está a passar.

E foi assim que o facebook e o twitter me salvaram de uma noite passada na rua de bebé a tiracolo, a fugir de putativos blocos de cimento. É no que dá ver trailers de filmes catástofre antes de ir para a cama.

terça-feira, dezembro 08, 2009

Always look on the bright side of life

Acordar a meio da noite com choro insistente, mudar a fralda, dar de mamar, pôr a arrotar, tranquilizar, voltar a dormir.

No meio de tanto verbo ele olhou pela janela ao voltar para a cama. Ainda com os olhos a meia haste atirou-me há coisas bem piores que ter um bebé. São 7h30 da manhã, está um frio de rachar, chuvisca e há um tipo a passear dois cães na rua. Ao menos o nosso faz chichi dentro de casa.

quarta-feira, dezembro 02, 2009

Eles

Esta manhã passei oficialmente a ser um deles: limpei o queixo do meu filho com um bocado de cuspo na ponta de um dedo.