domingo, setembro 28, 2008

Agradecimento

Há pessoas que não conhecemos mas que fazem parte da nossa vida, a muitas estou grata sem nunca lhes poder dizer porquê. Paul Newman está nessa lista.

Primeiro, por ser o homem mais bonito do mundo - facto que deverei agradecer às maravilhas da genética mas não só. A beleza das suas feições é sublinhada por uma luz que lhe vem de dentro, da sua força, talento, daquela coisa que não se pode tocar mas medir de alguma forma. Pode estar numa fotografia no meio de tantos e saltar para primeiro plano não apenas pelo enquadramento mas pelo que irradia.

Fotografado por Eve Arnold, durante uma aula no Actor's Studio



Depois, por ter sido um homem de família exemplar. Ser casado com a mesma mulher, ainda mais inteligente que bonita, durante mais de 40 anos num ambiente hostil à instituição casamento, é notável. Ter conseguido processar a morte do filho Scott por overdose, tendo fundado o Scott Newman Center para prevenir a dependência das drogas através da educação. (Vi Scott apenas na Torre do Inferno, a fazer de bombeiro ao lado de Steve MacQueen, com o olhar triste dos atormentados da alma).



Com a mulher Joanne Woodward, em 1958

Por ter sido um filantropo, mesmo em alturas em que isso não estava na moda. O Newman's own vende produtos biológicos cujas receitas revertem para instituições educacionais e de desenvolvimento sustentado desde 1982.




Etiqueta dos produtos Newman's own

Por me ter feito ler todo o Tennessee Williams. Por me ter dado algumas das cenas mais inesquecíveis do cinema - a dupla com Robert Redford na Golpada e no Butch Cassidy and the Sundance Kid, o alcoólico com problemas familiares na Gata em Telhado de Zinco Quente, o cínico looser no Doce Pássaro da Juventude, o gajo do esquemas nas mesas de bilhar no Hustler, que passa os seus ensinamentos na Cor do Dinheiro, o advogado que afinal consegue ganhar causas da maneira correcta no Veredicto.

Por ter realizado o Raquel, Raquel e a Influência dos Raios Gama no Crescimento das Margaridas, o confronto entre pai e filho, que seria também o seu, em Harry and Son. Encher aqueles personagens de amor que não sabem transmitir, que transbordam sentimentos que não conseguem verbalizar mas que estão lá em todas as coisas pequenas.

Por ter decidido que queria morrer em casa, e ter tido uma família à altura para lhe dar apoio nesse momento difícil. É das escolhas mais complicadas de fazer, porque se por um lado é o melhor e mais confortável em situações em que a medicina já não pode dar resposta, por outro é muito assustador. Parece que morrer não faz parte deste processo complexo que é viver. E estar ao lado dos que amamos até, literalmente, ao útimo suspiro faz parte da demonstração de amor que devemos passar.

Fico-me por agora com uma das suas cenas, da bicicleta como instrumento de sedução. Reparem no sorriso, o mais bonito do planeta.


"Our father was a rare symbol of selfless humility, the last to acknowledge what he was doing was special. Intensely private, he quietly succeeded beyond measure in impacting the lives of so many with his generosity. Always and to the end, Dad was incredibly grateful for his good fortune. In his own words: 'It's been a privilege to be here.’ ", segundo as filhas.

O previlégio foi todo nosso. Obrigado.

5 comentários:

Anónimo disse...

"Encher aqueles personagens de amor que não sabem transmitir, que transbordam sentimentos que não conseguem verbalizar mas que estão lá em todas as coisas pequenas."

Touché... Esta frase tocou-me... o que pela manhã não é nada fácil...

sete e pico disse...

o previlégio foi mesmo todo nosso. Fiquei triste com esta morte.

sem-se-ver disse...

(e, nos que realizou, também o 'glass menagerie', o meu preferido)

belo tributo, dona ester.

Unknown disse...

Até que enfim que encontro escrito um tributo que refere a minha opinião sobre Paul Newman: o homem mais lindo do mundo. Chorei quando soube que ia morrer, há semanas atrás.

D. Ester disse...

Fico muito contente que sejamos tantos a sentir a sua falta. É a medida da sua imortalidade.