sexta-feira, dezembro 05, 2008

No dia dos meus anos

No dia dos meus anos recebi telefonemas a partir da meia noite, parabéns e beijos nas diferentes formas e feitios, o afecto que me têm. Recebi retratos do meu alter ego















E do meu eu nas férias do verão, de dias em que fui feliz através dos teus olhos














Tirei fotografias com a família, as minhas mãos e as do meu pai a distinguirem-se apenas pelo tamanho. Parecemos inventados por um ilustrador sem imaginação, diferenciando as raparigas pelo laçarote em cima do cabelo e os pais por serem maiores que os filhos, de resto iguais, para que as crianças percebam que a família se vê no corpo mesmo quando se muda o género.
Os desenhos do meu sobrinho já com árvores de natal e presentes com embrulhos coloridos, um coelho vestido de pai natal e um gato a trazer-me um bolo de velas acesas. Estas várias identidades em que me desdobro, para cada um sou coisas diferentes e com cada um toco uma ou mais cordas da guitarra portuguesa que existe algures entre o pâncreas, o fígado e o hipotálamo.
Já em casa visto a camisa de noite de seda preta que a minha irmã escolheu para mim, sob o manto diáfano da fantasia a nudez forte da verdade, o realismo do século XXI espelhado na porta do armário.
Fui para a cama com um livro novo, aborreço-me com a prosa académica com pretensões a literatura, adormeço de lado em cima das páginas abertas e acordo sobressaltada com os meus roncos. Tu a leres impávido ao meu lado, confirmas que sim, ressono, eu culpo o escritor e continuo a dormir, para te encontrar esta manhã, com os pés nos meus tornozelos e encher-te de beijos enquanto não abrimos os olhos, parecemos dois cachorros recém nascidos enquanto não saltamos para o frio do dia entre torradas e café, e mesmo assim.
Enquanto espero que me atendam numa loja vejo-me ao espelho e começo a descobrir dobras que ali não estavam ontem, encolho o queixo para ver as pregas que aparecem no pescoço e penso nas rugas que me vão começar a saltar não tarda. Os retratos vão ficando a lembrar os telefonemas, o afecto, os parabéns, o presente que vai ser passado em menos de um fósforo.

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