segunda-feira, novembro 03, 2008

Erotismo em Lisboa


Salão erótico, FIL, Lisboa, domingo à tarde. A entrada era cara, com desconto para estudantes e reformados. A maior parte dos que por lá andava não era nenhuma das duas coisas.

Música muito alta, vinda dos inúmeros palcos de bares de strip a quererem chamar a clientela para os atributos e habilidades das suas meninas, alguns com homens hipermusculados com protuberâncias mais pequenas que as das esculturas gregas atrás das tangas apertadas, com convenientes aberturas fáceis laterais.

As mulheres que vão ao salão arranjam-se mais do que nos outros dias, botas de cano alto especiais, saltos altos, roupa de festa. Como se quisessem assegurar-se que os homens que as levam pelo braço não olharão mais para as desnudas beldades que para elas. Eles não perderam muito tempo com a vestimenta própria.

Delegações de sex shops que ofereciam quase todas o mesmo, com anunciados descontos a tentar escoar os produtos que as pessoas viam sem tocar, com olhares gulosos e dedos tímidos. Televisões com filmes porno, ao lado dos escaparates onde estavam à disposição por poucos euros, surpreendiam-me até a mim, com pilas ampliadas a meio metro a entrarem em vaginas depiladas, as caras das raparigas em esgares de esforço, como maratonistas cansadas a dez quilómetros da meta.

Como não conseguiam controlar os fotógrafos furtivos, era permitido registar o que quer que fosse. Cada vez que havia um show mais ousado parecia que estávamos numa conferência de imprensa de um estadista importante, com dezenas de objectivas apontadas e flashes incessantes. As trabalhadoras do sexo sorriam para a câmara, abraçadas aos visitantes que se queria imortalizar ao seu lado na película virtual. Afastavam-se como sorrisos triunfantes a verificar no ecranzinho da máquina se o decote tinha ficado bem centrado.

Numa loja elegante e bem arranjada, onde os brinquedos sexuais eram tão bonitos que poderiam facilmente passar por objectos decorativos em qualquer centro de mesa, interessei-me por um espartilho de brocado verde. Fiz perguntas aos donos da loja, experimentei, aconselhei-me, conversei como em qualquer outro sítio. Ficaram tão surpreendidos com a minha tranquilidade que se ofereceram para me descontar metade do preço, conquistando a minha felicidade em várias frentes.





Fiquei contente por ver uma barraca que se dedicava à educação sexual, distribuindo preservativos a quem passasse.

Cruzei-me com pessoas conhecidas, que ficavam entre o embaraço do encontro e a curiosidade com o meu saco de compras, mas sem coragem para perguntar sobre o seu conteúdo. Apressavam-se a ridicularizar cenas ou objectos que tinham visto, com risos nervosos e a afungentar qualquer ideia com que eu pudesse ficar sobre a sua intimidade. Vamos já embora, garantiam-me. Eu continuava divertida a ver as roupas interiores e a perguntar sobre o uso de formas inidentificáveis à vista desarmada, a empregadas solícitas e disponíveis. Oferecemos 30% de desconto e uma bússola, atiravam em jeito de oferta irrecusável.


Achei curioso que apenas no espaço de bdsm se vendessem quadros (horripilantes, mas para o caso não interessa), livros sobre sexualidade, e informação sobre o que é são, seguro e consensual. Como se só quem gostasse de andar na corda bamba íntima se preocupasse com os porquês e como das coisas.

3 comentários:

dorean paxorales disse...

"Corda bamba íntima"?
De todo, caríssima, de todo.

D. Ester disse...

eu creio que sim. joga-se com sentimentos fortes, dentro e fora do corpo, testando limites e por vezes indo além deles. E isso faz com que, para passar de um poste ao outro, se ande em territórios interiores que podem passar por equilibrios precários. mas estou à espera que me surpreendas com o teu comentário alongado.

dorean paxorales disse...

Parece-me que só haverá "corda bamba", para usar a tua expressão, quando não há grande intimidade prévia. Caso contrário, esta até se vê aprofundada pelo extremismo da experiência.
É claro que há quem só ache piada à coisa com estranhos mas isso já uma mistura de géneros.