sexta-feira, novembro 07, 2008

Ainda o purgatório

Não sei o que significa entregar a vontade e a vida a uma entidade que não se vê. Sei que passamos os primeiros anos sob os desígnios dos pais, contra os quais nos rebelamos na adolescência e com quem, com sorte e maturidade, fazemos as pazes na vida adulta e podemos finalmente viver a relação em pleno.

Quando a personalidade se constrói em alicerces virtuais, em fachadas para não mostrar fraquezas, quando se tem medo de mostrar o lado frágil, vulnerável, magoável, come as possibilidades de humildade e gratidão necessários ao amor incondicional.

Depois de partir tudo à volta, tudo mesmo, esperar sair renovado mas que nos levem ao colo sem que tenhamos de pedir - sem perceber que os braços são de fraco músculo para tanto peso - vem a ansiedade, a insatisfação, o síndrome calimero a quem todo o mundo deve mas não parecem saber como dar.

Estou aflita, tenho medo, vejo padrões repetidos e que queria ver desaparecidos.

Não quero que voltes a ser aquele que eras, quero nunca mais ver o que foste. Quero-te agora como realmente és, com as qualidades que já conheço mas também com os defeitos e fraquezas que andaste habilmente a esconder durante tanto tempo. Uma pessoa inteira.

O problema da adicção não são as drogas ou o álcool, são os mecanismos que levam a pensar que se é melhor com uma consciência que não é a sua. Triste logro. Por muito mau que se possa ver ao espelho da alma, a realidade é sempre melhor que a ficção.


Salve, Rainha, mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança nossa, salve!

3 comentários:

Alvaro_C disse...

sempre o purgatório.
"anjo da guarda, minha companhia, guardai a minha alma de noite e de dia"

D. Ester disse...

coitado do meu anjo da guarda, sempre que lhe rezava à noite pedia-lhe que tomasse também conta dos meus pais e irmã. Acho que ele se cansou de tanto trabalho e foi dar uma volta ao bilhar grande.

Alvaro_C disse...

Se calhar aconteceu-te como eu: quando era muito puto dava a existência de Deus como garantida, talvez porque achava muita utilidade à coisa. Por isso de cada vez que me sentia aflito prometia uns 10 terços se ele me livrasse do aperto. Fui acumulando uma considerável dívida em terços, que nunca cheguei a pagar porque entretanto... foi-se a fé. Para o efeito foi uma ocorrência muito conveniente, senão ainda hoje tinha de rezar um tercinho depois de cada refeição, para amortizar a dívida (livra...). Se Deus existe então deve estar seriamente chateado com a quantidade de crédito que ele tem a haver à minha conta...
Vamos enviar-lhe uma bilhetinho de desculpas, eu pelos terços, tu pela sobrecarga do coitado do anjo... Vida lixada a dele...