Tínhamos 11 anos e andávamos na mesma escola preparatória. Ele chamava-se Tiago e tinha uns olhos lindos, escuros e de pestanas pretas longas. Não éramos da mesma turma, mas com tanta sorte uma das minhas amigas já da primária era sua vizinha de prédio e assim fomos apresentados no recreio. A intermediária garantia-me que ele gostava de mim, devia fazer o mesmo com o rapaz, o que nos deixava embaraçados sempre que estávamos juntos. Um dia deixei-me estar sentada ao seu lado no muro depois dos outros terem ido brincar, nenhum de nós conseguia falar muito e ele ia raspando a pele da mão esquerda com um pauzinho. Pedi-lhe para ver o que tinha feito, ele não queria o que apenas aguçou a minha curiosidade. Insisti, puxei-lhe o braço, e de repente tinha a sua mão na minha e vi o meu nome cravado na pele dentro de um coração. Corámos ambos, encolhemos os ombros, e fomos a sorrir para casa.
A minha amiga fez anos e fomos ambos à festa. Pusémo-nos a ouvir música no gira discos, os singles e os LP. Começaram os slows, e eu sentada na cama morta de vontade de ser pedida para dançar. Com o Up where we belong ele ganhou coragem - levantou-se e estendeu-me a mão. Entre os risinhos dos outros levantei-me, pus-lhe as mãos nos ombros, as dele na minha cintura e embalámo-nos ao som da rouquidão do Joe Cocker. Com o andar das estrofes fomo-nos aproximando devagarinho, timidamente. Ele apertava os braços à minha volta e eu os meus no seu pescoço, encostámos finalmente as caras e deixamo-nos a disfrutar o momento, a primeira dança a dois. Nem démos pela música acabar, puseram logo outra e nós ali continuámos, abraçados pela primeira vez sem vergonha para quem nos quisesse ver, até que mais ninguém repôs música e reparámos que se tinham cansado todos menos nós. Acordámos do nosso estupor, desembaraçámo-nos dos corpos um do outro e pouco tempo depois despedimo-nos.
No ano seguinte mudei de bairro e nunca mais o voltei a ver. Sempre que oiço a música lembro-me desse amor inocente, vivido por inteiro nessa dança.
4 comentários:
Faço minhas as tuas palavras. Acho que todos da nossa geração temos uma historia igual.
Uma dedicatoria para a Mafalda.M. que seguiu o seu caminho, para a Madalena M. (levei mto tempo a ter coragem).
Bjs
D. Ester,
Ainda bem que uma de nos tem uma boa recordacao dessa cancao. As minhas sao todas de tentativas frustradas de karaoke, com muito alcool!
Eu dançava uito abraçadinha, ate ter a cara a ferver, mas era a "Everytime you go away"...
Com o Andre Ramos, que nunca teve coragem de aparecer nas traseiras do refeitorio para o beijo que ambos queriamos!
Obrigada pela recordacao,
Bjs
L.
curioso...
o 1º concerto ao vivo que vi foi Joe Cocker no saudosíssimo pavilhão dramático de cascais.
muito linda esta tua história.
ah! e já agora, este foi o 1º slow que dancei:
http://www.youtube.com/watch?v=IXjNXeH27qY
:)
Gostei muito dos vossos comentários. André Ramos, seu cobarde... aposto que ainda hoje pena por essa falta.
Tratador, o mais engraçado é que passados todos estes anos a angústia e ansiedade anterior ao primeiro momento está toda lá. Bendita.
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