Enquanto me deliciava com o jorro de água quente pela cabeça abaixo descobri uma inquilina no canto oposto do duche, encostada ao tecto. Ficámos a olhar-nos como num duelo numa rua empoeirada do Oeste, vi-a atenta e quieta e decidi que poderíamos partilhar a casa de banho desde que ela não me fosse aos cremes.
Os dias foram passando e a aranha ia engordando, aumentando o seu círculo castanho interno e as longilíneas patas cada vez mais peludas. Comecei a ver-lhe feições e a imaginar que crescia para um dia me engolir a mim também, numa digestão demorada e preparada há semanas.
Contei a uma amiga do novo bicho de estimação, que me protegia dos insectos e me mirava no banho, como uma grande irmã muda e queda. Voltou da casa de banho em choque, aquilo é uma tarântula mais peluda que eu em vésperas de ir ao salão, qualquer dia pica-te e deve ter veneno. Achei que tinha chegada a altura de expulsar a oito patas da minha intimidade.
Não a queria matar, para além do mau karma dizem que trazem dinheiro, em tempos de crise nada pode ser menosprezado. Com uma amiga audaz delineámos um plano: com a vassoura atirá-la para a banheira, com um lenço de papel pegar nela e atirar pela janela. Eu fico com a vassoura, mas aviso que vou gritar. Gritei, a aranha não. Expulsámo-la à intempérie.
Hoje senti a sua falta no banho.
2 comentários:
Eu também nao mato aranhas e por isso deixo-te aqui o meu método de as expulsar da minha casinha sem as magoar muito (espero). Primeiro meto um copo ou um frasco por cima delas, depois enfio um papel por baixo. Assim entaladas sao levadas até à varanda onde depois de abanadas, dao um saltinho até ao jardim. E depois venho para dentro a pensar "bolas, que frio!"
Nao admira que elas prefiram, como eu, o quentinho :-)
obrigado pela dica, irei usar em breve já que descobri uma igual à anterior mas mais pequenina... está visto que o futuro me reserva rios de dinheiro, apesar da crise.
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