domingo, novembro 30, 2008
A aranha
sexta-feira, novembro 28, 2008
O amor em lugares estranhos
Quando encontrei o rapaz no elevador com o pai disse-lhe que tinha recebido os seus desenhos, agradeci-lhe sublinhando com um sorriso. Ele corou até à raiz dos cabelos sob a expressão espantada do pai, nem conseguiu responder. Fiquei com sentimento de culpa por lhe ter partido o coração com a insensibilidade da minha revelação pública. De vez em quando olhava para a varanda mas não voltaram a aparecer os recados.
quinta-feira, novembro 27, 2008
Do lugar onde estou já me fui embora
Problema de expressão
Daqui a 10 anos, quando olhar para mim como sou agora, ver-me-ei decerto magnífica. Pena esta coisa de me apreciar ao ralenti.
quarta-feira, novembro 26, 2008
Bicicletar por aí
A questão da inclinação de Lisboa, habilmente explicada aqui, parece-me apenas acessória à do civismo na estrada e condições lojísticas para o uso da bicicleta. Não se pode levá-la nos transportes, no comboio apenas nos urbanos, regionais e interregionais, se e só se, autorizado pelo picas de serviço - o que não é de todo um estímulo para quem precise de usar os transportes públicos em conjunto com a bicla. Convenhamos que pedalar de Mem Martins até ao centro de Lisboa é façanha apenas ao alcance de Venceslaus que têm mais que fazer que ir trabalhar para o escritório a suar em bica e a cheirar mal.
segunda-feira, novembro 24, 2008
Requisitos
De que é que trata a tese? Who cares?
domingo, novembro 23, 2008
Prazeres íntimos
(acabo sempre com uma mancha castanha na ponta do nariz)
sábado, novembro 22, 2008
Dra Ester and Mrs Hyde
quarta-feira, novembro 19, 2008
A kind of hush
A minha mãe a guiar o carro, a pôr o rádio mais alto quando esta música começava e a cantá-la arrastando o sh da frase e batendo com as mãos no volante enquanto abanava o tronco. A partir de uma certa idade tinha vergonha que a minha mãe cantasse ou dançasse em público, como todos os adolescentes. Também não gostava que ela me desse a mão ou abraçasse quando passeávamos na rua, as pessoas iam achar que eu era uma criança. Depois passou-me.
So listen very carefully.
A minha mãe era muito desafinada, daquelas que não consegue acertar com uma nota no sítio certo e que ouvida sem a música por trás fazia com que se percebesse apenas o que queria cantar pela letra. De vez em quando aborrecia-se com a troça que fazíamos e afirmava "tenho óptimo ouvido, não tenho é voz". O seu excelente ouvido fazia-a confudir o Bono com o Mark Knopfler, coisa pouca.
There's a kind of hush all over the world tonight.
Um dia descobrimos uma maneira de tornar os seus dotes canoros úteis. Quando voltávamos do campo era preciso dar banho aos gatos, actividade que eles detestavam e da qual fugiam como podiam. Em desespero de causa a minha mãe começou a cantar para os tranquilizar e teve como efeito o congelamento imediato de todos os seus músculos - os bichos ficavam agachados, de orelhas para trás e rabo no meio das patas com o comprimento de onda ímpar da sua voz, se tentava uma nota mais aguda quase colavam a barriga ao alguidar. O banho dos gatos tornou-se num espectáculo familiar hilariante, e um regozijo para a autora da minha existência que via finalmente aplaudidas (ainda que de forma peculiar) as suas características vocais.
So listen very carefully.
Hoje vinha a guiar e deu esta música na rádio e estas memórias saltaram todas. Comecei a cantar e a sorrir. Enquanto houver quem se lembre de nós estamos vivos.
There's a kind of hush all over the world tonight.
terça-feira, novembro 18, 2008
Informações: senha verde
No entanto, não posso deixar de sentir uma pontada de vaidade ao descobrir que sou a 9ª entrada em 275.719 por erotismo em blogs. Ora toma.
segunda-feira, novembro 17, 2008
Estatisticamente significativo
sexta-feira, novembro 14, 2008
Pontos de vista
Hoje houve alguém que aqui veio dar procurado no google por respostas curtas parvas e idiotas. Nunca este blog foi tão bem definido.
quarta-feira, novembro 12, 2008
O primeiro baile da D. Ester
A minha amiga fez anos e fomos ambos à festa. Pusémo-nos a ouvir música no gira discos, os singles e os LP. Começaram os slows, e eu sentada na cama morta de vontade de ser pedida para dançar. Com o Up where we belong ele ganhou coragem - levantou-se e estendeu-me a mão. Entre os risinhos dos outros levantei-me, pus-lhe as mãos nos ombros, as dele na minha cintura e embalámo-nos ao som da rouquidão do Joe Cocker. Com o andar das estrofes fomo-nos aproximando devagarinho, timidamente. Ele apertava os braços à minha volta e eu os meus no seu pescoço, encostámos finalmente as caras e deixamo-nos a disfrutar o momento, a primeira dança a dois. Nem démos pela música acabar, puseram logo outra e nós ali continuámos, abraçados pela primeira vez sem vergonha para quem nos quisesse ver, até que mais ninguém repôs música e reparámos que se tinham cansado todos menos nós. Acordámos do nosso estupor, desembaraçámo-nos dos corpos um do outro e pouco tempo depois despedimo-nos.
No ano seguinte mudei de bairro e nunca mais o voltei a ver. Sempre que oiço a música lembro-me desse amor inocente, vivido por inteiro nessa dança.
segunda-feira, novembro 10, 2008
Ídolos - infância
As letras que ele imaginava e as música que compunha para as acompanhar faziam-me ficar em silêncio durante horas, e ouvi-las vezes sem conta. Tinha a certeza (ainda tenho, no fundo) que algumas foram escritas só para mim, que mas dedicava num segredo que era nosso e que guardava à vista de todos.
Para além dos LP e dos singles, obriguei o meu pai a repetir um espectáculo teatral ad nausea para ouvir as suas palavras.
O meu primeiro amor foi o José Barata Moura
Este não é um post de parabéns
Bacalhau à Brás (4 pessoas)
Ingredientes:
750 g de bacalhau demolhado (duas ou três postas)
750 g de batatas - ou 1 pacote grande de batata palha
1/2 kg de cebolas (duas médias grandes)
3 1/2 dl de azeite (a olho)
1 alho (um dente ou dois)
6 ovos (para aí)
salsa picada, sal e pimenta q.b.
Receita:
Escalda o bacalhau, (põe-no no escorredor e faz passar água quente), tira-lhe as peles e espinhas e desfia.
Pica as cebolas e o alho, aloura em azeite quente no tacho metalizado (até ficarem com ar opaco e mole).
Junta o bacalhau, dzzzz dzzz, até achares que está (quando fica com ar meio cozinhado mas sem estar espapassado, mexe, põe a tampa e deixa ficar um bocado).
Atira as batatas palha, zuca zuca, mexe mexe, até ficarem moles e uma coisa homogénea (deixa ficar um bocado, com a tampa também).
Bate os ovos na taça redonda nº 2, junta pimenta e um nadinha de sal (não te esqueças de provar o bacalhau, para ver como ficou demolhado).
Quando já tiveres os convidados todos em casa podes atirar os ovos para a mistura preparada, mexe mexe sem deixar secar mas até aos ovos estarem agarradinhos ao resto da matéria prima.
Põe numa travessa e enfeita com as azeitonas e a salsa que já deixaste picada na tábua azul.
sábado, novembro 08, 2008
sexta-feira, novembro 07, 2008
Ainda o purgatório
Não sei o que significa entregar a vontade e a vida a uma entidade que não se vê. Sei que passamos os primeiros anos sob os desígnios dos pais, contra os quais nos rebelamos na adolescência e com quem, com sorte e maturidade, fazemos as pazes na vida adulta e podemos finalmente viver a relação em pleno.
Quando a personalidade se constrói em alicerces virtuais, em fachadas para não mostrar fraquezas, quando se tem medo de mostrar o lado frágil, vulnerável, magoável, come as possibilidades de humildade e gratidão necessários ao amor incondicional.
Depois de partir tudo à volta, tudo mesmo, esperar sair renovado mas que nos levem ao colo sem que tenhamos de pedir - sem perceber que os braços são de fraco músculo para tanto peso - vem a ansiedade, a insatisfação, o síndrome calimero a quem todo o mundo deve mas não parecem saber como dar.
Estou aflita, tenho medo, vejo padrões repetidos e que queria ver desaparecidos.
Não quero que voltes a ser aquele que eras, quero nunca mais ver o que foste. Quero-te agora como realmente és, com as qualidades que já conheço mas também com os defeitos e fraquezas que andaste habilmente a esconder durante tanto tempo. Uma pessoa inteira.
O problema da adicção não são as drogas ou o álcool, são os mecanismos que levam a pensar que se é melhor com uma consciência que não é a sua. Triste logro. Por muito mau que se possa ver ao espelho da alma, a realidade é sempre melhor que a ficção.
Salve, Rainha, mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança nossa, salve!
Procura-se
Onde encontrar algum optimismo na actual conjuntura? - personalidade a designar
quinta-feira, novembro 06, 2008
Conversa de rua
- A partir de hoje, sim.
quarta-feira, novembro 05, 2008
Dedicada ao outro lado do Atlântico
Um homem que afirma "I will listen to you, especially when we disagree", tem toda a minha atenção. Para ele e todos os que acreditam e lutam para que as coisas sejam diferentes, Ben Harper (filho de um mestiço preto/cherokee e de uma branca judia) parece-me o mais apropriado.
terça-feira, novembro 04, 2008
Saudades do verão
segunda-feira, novembro 03, 2008
Erotismo em Lisboa
As mulheres que vão ao salão arranjam-se mais do que nos outros dias, botas de cano alto especiais, saltos altos, roupa de festa. Como se quisessem assegurar-se que os homens que as levam pelo braço não olharão mais para as desnudas beldades que para elas. Eles não perderam muito tempo com a vestimenta própria.
Delegações de sex shops que ofereciam quase todas o mesmo, com anunciados descontos a tentar escoar os produtos que as pessoas viam sem tocar, com olhares gulosos e dedos tímidos. Televisões com filmes porno, ao lado dos escaparates onde estavam à disposição por poucos euros, surpreendiam-me até a mim, com pilas ampliadas a meio metro a entrarem em vaginas depiladas, as caras das raparigas em esgares de esforço, como maratonistas cansadas a dez quilómetros da meta.
Como não conseguiam controlar os fotógrafos furtivos, era permitido registar o que quer que fosse. Cada vez que havia um show mais ousado parecia que estávamos numa conferência de imprensa de um estadista importante, com dezenas de objectivas apontadas e flashes incessantes. As trabalhadoras do sexo sorriam para a câmara, abraçadas aos visitantes que se queria imortalizar ao seu lado na película virtual. Afastavam-se como sorrisos triunfantes a verificar no ecranzinho da máquina se o decote tinha ficado bem centrado.
Numa loja elegante e bem arranjada, onde os brinquedos sexuais eram tão bonitos que poderiam facilmente passar por objectos decorativos em qualquer centro de mesa, interessei-me por um espartilho de brocado verde. Fiz perguntas aos donos da loja, experimentei, aconselhei-me, conversei como em qualquer outro sítio. Ficaram tão surpreendidos com a minha tranquilidade que se ofereceram para me descontar metade do preço, conquistando a minha felicidade em várias frentes.
Fiquei contente por ver uma barraca que se dedicava à educação sexual, distribuindo preservativos a quem passasse.
Cruzei-me com pessoas conhecidas, que ficavam entre o embaraço do encontro e a curiosidade com o meu saco de compras, mas sem coragem para perguntar sobre o seu conteúdo. Apressavam-se a ridicularizar cenas ou objectos que tinham visto, com risos nervosos e a afungentar qualquer ideia com que eu pudesse ficar sobre a sua intimidade. Vamos já embora, garantiam-me. Eu continuava divertida a ver as roupas interiores e a perguntar sobre o uso de formas inidentificáveis à vista desarmada, a empregadas solícitas e disponíveis. Oferecemos 30% de desconto e uma bússola, atiravam em jeito de oferta irrecusável.
Achei curioso que apenas no espaço de bdsm se vendessem quadros (horripilantes, mas para o caso não interessa), livros sobre sexualidade, e informação sobre o que é são, seguro e consensual. Como se só quem gostasse de andar na corda bamba íntima se preocupasse com os porquês e como das coisas.