A Joana Lopes atribuiu-me um prémio. Pronto, não foi um inventado mesmo só para mim, é das cadeias. Mas ainda assim, premium est. Como a Joana Lopes é uma blogger que muito prezo merece uma resposta pensada. Além do mais levo anos disto, primeiro com cartas a sério que se tinham de fotocopiar e enviar, e depois com mails que havia que forwardar sob pena de ficar sem uma perna, com sarna, ezerpela, mau olhado ou qualquer outra mazela que me atingisse a fisiologia ou a vitalidade, vou aceitar - não sem antes proferir o respectivo discurso e agradecimentos.
Pode ler-se nos princípios fundadores do Prémio Dardos (cuja origem não consigo encontrar em lado nenhum, mas deve ter sido inventado por alguém que tinha algumas dificuldades com a língua portuguesa) que o mesmo se destina a "reconhecer os valores que cada blogueiro mostra a cada dia, o seu empenho por transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras". Confuso? Sim, eu também fiquei um pouco. Mas lá que é elogioso é.
Assim, de dardos nas mãos e lágrimas nos olhos, quero começar por agradecer à minha mãe e ao meu pai, que numa encalorada tarde angolana de Março me conceberam, e desde Dezembro desse mesmo ano me começaram a criar. Agradeço-lhes não me terem assassinado durante as sessões nocturnas de choro convulsivo com que lhes presenteei os primeiros sete anos da minha existência, derivado às otites crónicas e constantes que me entravam pelo ouvido médio adentro. Se bem que se vingaram longamente, com consecutivas administrações de supositórios de paracetamol e obrigando-me a usar passe montagne mesmo no pino do verão, o facto de não me terem enfiado num cesto e ala rio abaixo significa quão seguros estavam que eu tinha sido cá posta com um propósito maior que eu ou eles.
Não agradeço à minha irmã mais velha, por não ter destruído as suas roupas enquanto crescia - eu apenas tinha direito a roupa nova nos anos e no natal, porque a dela ainda estava óptima para ser usada. Por causa disso tornei-me uma consumista compulsiva, enchendo o armário de mais e mais coisas novinhas em folha só para mim enquanto ela se refinou numa desprendida galopante, sendo capaz de se desfazer sem qualquer tipo de esforço ou dó de alma das coisas que já não precisa, não servem e não quer. O meu estatuto de herdeira em vida obrigou-me também a dar novo uso ao que velho era, o que sem dúvida foi o meu balão se ensaio para o desenvolvimento da minha criatividade, que agora se vê reconhecida através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre as minhas letras e as minhas palavras. Assim sendo e reconsiderando, agradeço então à primogénita dos meus pais, também lhe devo a ela o reconhecimento que ora vejo enfim espelhado neste prémio.
A todas as pessoas com quem me cruzei na vida, amigos e inimigos da mesma forma, por me darem a matéria prima de que este blog é feito.
A todos os livros que li, quadros que vi, música que ouvi, e que como tenho péssima memória e me lembro de tudo, vêm cá dar com os costados, quer queira quer não queira.
Agradeço ao Bill Gates, por ter criado o windows e ao Tim Berners-Lee pela World Wide Web, sem os quais os valores culturais, éticos, literários e pessoais pelos quais me rejo ficariam ao alcance apenas de uns quantos iluminados e não disponíveis aos que navegam por estes mares etéreos.
Por último, e fazendo jus ao passa ao outro e não ao mesmo, lanço os dardos que me foram confiados às minhas múltiplas do 8 e coisa para que os possam atirar para outra freguesia se assim o entenderem. Foi com elas que me iniciei no maravilhoso mundo novo das comunidades virtuais, e é de completa justiça que vejam devolvido o reconhecimento de uma das suas criaturas fundadoras, que apesar de andar nas termas a solo irá por lá dar umas perninhas quando se justifique. Minhas senhoras chofer a dançar com a criada, dizia ela baixinho, na prise és bestial, sete e picos, nove e tal, rebentou-lhe o suspensório, perante o riso geral, a d. inês sequiosa, a coluna vertebral, foi dançar a bossa nova e gerou-se a confusão natural, o palco é vosso.
ADENDA: No calor do momento, e embargada pela emoção, não nomeei algumas pessoas fundamentais em todo o percurso de vida que me fez chegar aqui. Depois de devidamente insultada com palavrões que aqui não posso repetir, sob pena de perder a coroa, venho repôr a verdade dos factos.
Agradeço também à minha irmã mais nova, adorável criatura que entrou pela minha vida adentro passava eu pouco dos 9 anos, roubando-me o estatuto de filhinha mais pequena do seu pai. Os insultos interiores foram tantos que a fizeram crescer mais 15 centímetros que eu, devolvendo-me a primazia que afinal continua minha, facto que penhorada lhe agradeço.
7 comentários:
d. ester,
obrigada pelo dardo que tão certeiramente lançou. não percebi é se era para o atirar aqui ou lá na chafarica onde repousa.
de qualquer modo, ensaio agradecimento muito breve aqui:
agradeço sobretudo à d. inês sequiosa por me ter dado o meu gato gato gualter que, por sua vez, me deu grandes lições de dignidade.
bem hajam!
esqueci-me do bem hajam, lembrar-me-ei para a próxima. Ainda não percebi bem como funciona o prémio, mas é como te aprouver.
Provavelmente o melhor agradecimento virtual que li! Parabens Dester!
A D. Ester come weetabix com dicionario logo pela manha...
Merece o premio sim senhora, ainda bem que nao se engaram na porta!
Beijinhos com os olhos em bico!
do lince muito orgulhoso da amiga!
obrigado, obrigado, de braços abertos e cabeça inclinada para trás.
Comovida agradeço à carestia de vida dos anos 70 e 80 que obrigou à reciclagem de roupa e me trouxe a glória do reconhecimento (indevido) no discurso de agradecimento da minha irmã dona ester.
eu da minha parte agradeço a honra de poder continuar esta potente cadeia mas como somos muitas passo a bola a outra pois neste momento o meu discurso de aradecimento limitar-se-ia a: obrigad. (os wetbix que eu como de manhã andam com muito insipidos)
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