Um amigo meu andava num colégio católico de rapazes onde se tinham de confessar à sexta feira, para estarem puros para a comunhão de domingo. Apartir da puberdade o seu pecado recorrente era "cometi actos impuros sozinho", e todas as semanas desejava poder admitir ao padre que os tinha feito acompanhado. Eventualmente Deus ou o destino, neste caso a Maria do 5º esquerdo, concederam-lhe essa graça.
Defender a abstinência entre adolescentes é tão produtivo como tentar encontrar uma relação estatisticamente significativa entre o tempo do atraso dos comboios no Entroncamento e os cartões amarelos sofridos pelo Benfica ao domingo na Luz. Os miúdos são pessoas por inteiro, com desejos e capacidade crítica para saber discernir quando e com quem o quê. Considerá-los inimputáveis e decidir por eles a sua vida não os transforma em adultos saudáveis e capazes de escolher o próprio caminho. Para além de que a adolescência é, por definição, a época da emancipação e do confronto, e insistir num ponto apenas aguça a curiosidade e o engenho para contornar os obstáculos.
Quem se coibir de iniciar explorações sexuais por medo de represálias divinas ou raspanete dos pais, apenas se está a habilitar a uma vida íntima cheia de fantasmas, tabus e falta de prazer dos quais vão passar o resto da vida a tentar livrar-se. Ou não, e aí destilam fel contra tudo e todos que escolhem estradas diferentes das suas.
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