quarta-feira, outubro 08, 2008

Nas causas da D. Ester

Fiz 18 anos numa quarta feira de inverno. Nesse dia fiz uma coisa para a qual me preparei durante toda a adolescência até então: fui-me recensear à Junta de Freguesia. Senti-me feliz por poder passar a fazer parte das decisões da cidade e do país. Em meu nome e, pomposamente, em nome de todos os que não o poderam fazer durante tanto tempo. (hoje já não invoco os antepassados, penso mais nos que hão de vir.)

Há uns anos numa conversa em família descobri que a maioria dos miúdos de vinte anos, mesmo os interessados e participativos, não estavam recenseados. Fiquei estupefacta, descobrindo que a maioria dos seus amigos também não o tinham feito. Como é possível que se demitam do seu direito há tão pouco tempo conquistado no nosso país? Quando eu nasci não havia sufrágio universal em Portugal, quando eles nasceram isso já era um direito mais que instalado. Será por isso?

Não me interessa agora discutir as brechas do sistema. O sistema é um problema, já cantam os Enapá há anos. A questão é que se não se estiver recenseado, as probabilidades de que façam parte de algum movimento cívico, independente de partidos e sustentado por convicções, é baixíssimo. Mesmo que vote em branco, nulo, ou no raio que me parta, nada me afasta das urnas no dia de eleições, sejam elas quais forem.

Talvez seja questão de se fazer campanha pelo recenseamento. Como esta


via trapezista

4 comentários:

Anónimo disse...

Lol. O video está bastante bem apanhado. Neste caso concreto concordo (pela eleição e país que são).
Sobre o texto concordo plenamente. Aliás é um problema não só de uma democracia com trinta e poucos anos. Alastra-se a muitos países desenvolvidos 'por tradição', acho. Talvez devesse haver maior preocupação do "sistema" (leiam-se pessoas, desde pais, bailarinas, pouco proactivos, blogueiros até professores e politicos) entre dois votos sucessivos para fomentar o cidadão a pensar no seu 'verdadeiro' lugar e posição na sociedade (aqui e agora versus lá e depois)... até porque a cruz é somente o resultado do eleitor integrar informação continuamente até ao proximo acto eleitoral. Falo por mim, pelo menos. Infelizmente muitos (até nós os 'crescidos conscientes') saltitamos de opiniões pelo marketing que se faz nos sprints finais (leia-se "campanhas eleitorais") que antecedem o voto.
O chamado eleitorado flutuante que centram tantas preocupações nos politicos durante as campanhas "democraticas".
A memória é muito mais curta do que 30 anos. POr isso as campanhas funcionam e são determinantes na definição do "vencedor". Nos jovens, a escola (...e a familia...) poderiam contribuir para promover maior formação civica. Talvez, não sei. "Who cares...", "não votem"! ;-)
Claro que - uma vez que votar obriga a reflectir i.e. dá trabalho - em democracia há situações onde a abstenção tem peso (e portanto finalidade) no acto eleitoral. Já me abstive 1 vez. E fi-lo convictamente...

D. Ester disse...

votar obriga a reflectir, é disso que se demitem os que não se recensiam. os anúncios chatos a exortar à actualização das listas até Março de cada ano bem podiam ser revistos, já que carinhas larocas conhecidas (felizmente) não faltam. Ocorrem-se assim de repente uns quantos que me dariam vontade de recensear duas ou três vezes de seguida.

A abstenção convicta também tem uma leitura importante. Não temos de ter opinião concordante com todos os termos em que nos obrigam a votar. Eu tenho o meu joker para as eleições em que não quero nenhuma das opções viáveis (i.e. as que podem de facto ganhar ou mudar rumos), que me funciona sempre porque se candidata a tudo a que sou chamada a votar.

Anónimo disse...

Neste ultimo caso acho que se deve votar em branco (diff from abster-se). Refiro-me a outras situacoes aquando por exemplo de um referendo que precisa (pelo menos pela lei) de uma percentagem minima para ser vinculativo. Podes nao querer que o referendo seja vinculativo, por nao ser assunto para decisao popular massiva (com base nos sprints finais da propaganda)...
Mas ja falamos disto noutro forum... o video esta porreiro! :-)
espero que a abstencao diminua nestas eleicoes.

D. Ester disse...

hum, eu cá não falei disto em fórum nenhum. mas o que dizes faz sentido claro. Na realidade parece-me mais racional fazer-se pressão para que não se referende matéria que nos parece dever ser discutida no parlamento, com o dinheiro e tempo que se perde em campanhas. mas isto sou eu, que sou uma utópica.