terça-feira, dezembro 22, 2009

Ossos do ofício

Há quem faça calos nos dedos de tanto escrever com o próprio punho. Os cavadores ganham-nos nas palmas das mãos, os caminhantes nas solas dos pés.

O meu filho tem um na boca.




Resta-nos saber se é tudo fome ou se anda a alimentar um édipo como deve ser.

domingo, dezembro 20, 2009

Um bocadinho

De cada vez que me dizem oh D. Ester, o seu filho é lindo, em vez de agradecer como me compete concordo efusivamente pois é! Às vezes nem espero que digam nada, atiro logo um ele é tão bonito com o qual as pessoas são obrigadas a concordar.

Ando a tentar pôr em contacto o meu coté maternal com a costela de boas maneiras, e quando se encontrarem pode ser que consiga começar a dizer obrigada com um ar tímido-embaraçado, ou eu também acho mas sou suspeita, ou se chegar ao nível três já reparou como ele tem as orelhas um bocadinho de abano?

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Tremores

Quarta à noite, família toda na cama enquanto se aleita o rebento.
- Estás a sentir?, perguntou-me ele
- A sentir o quê?
- Isto!
- Se parares de abanar a cama talvez consiga sentir...
- Não sou eu que estou a abanar a cama.

Silêncio

- Se não és tu, achas que temos poltergeist em casa? (estava mesmo a falar a sério, resquícios dos anos 80, vítima de Spielberg em 1º grau)
- Acho que é um tremor de terra, avançou ele.
- Que disparate, deve é ser a máquina de lavar a roupa que está a centrifugar fora do sítio, vai lá ver. (e o mais extraordinário é que apesar de isso nunca ter acontecido ele foi mesmo. Não era)

O bebé continuava a mamar que Deus lhe dava e nós começámos a fazer planos de emergência.
- Se for um terramoto à séria vamos para a rua e levamos o bebé no sling, achou ele
- Com a quantidade de prédios à volta ainda apanhamos com um tijolo na mona, acho melhor ficarmos em casa. Quer dizer, se as paredes não cairem...

Olhamos um para o outro, pensando que talvez as paredes caiam mas se não falarmos no assunto pode ser que se aguentem.
- Vou à internet para saber o que se está a passar.

E foi assim que o facebook e o twitter me salvaram de uma noite passada na rua de bebé a tiracolo, a fugir de putativos blocos de cimento. É no que dá ver trailers de filmes catástofre antes de ir para a cama.

terça-feira, dezembro 08, 2009

Always look on the bright side of life

Acordar a meio da noite com choro insistente, mudar a fralda, dar de mamar, pôr a arrotar, tranquilizar, voltar a dormir.

No meio de tanto verbo ele olhou pela janela ao voltar para a cama. Ainda com os olhos a meia haste atirou-me há coisas bem piores que ter um bebé. São 7h30 da manhã, está um frio de rachar, chuvisca e há um tipo a passear dois cães na rua. Ao menos o nosso faz chichi dentro de casa.

quarta-feira, dezembro 02, 2009

Eles

Esta manhã passei oficialmente a ser um deles: limpei o queixo do meu filho com um bocado de cuspo na ponta de um dedo.

sábado, novembro 21, 2009

MILF

Neste verão o meu sobrinho ao ver as minhas amigas à beira mar porque é que as mães são todas gordas?

Ainda pensei explicar-lhe o conceito MILF e como eu conto entrar nele o mais breve possível. Mas considerando que ele ainda não chegou a uma idade de dois digitos e acha beijos com língua uma nojeira dos filmes, achei prudente evitar a conversa.

Ao passear-me na minha hora de liberdade pelas ruas dos quarteirões deste bairro fui piropeada por um adolescente - o que para uma velhota de 35 anos é um elogio do caneco. O pior foi a frase que ele escolheu para me mimosear. Eh lá, belas maminhas a uma mulher a amamentar convenhamos que dá vontade de responder my son's thoughts exactly.

domingo, novembro 15, 2009

Twilight zone

Fenómenos estranhos que se dão com a chegada de crianças a uma casa. Os pais passam a ver e ouvir muito menos, as mães muito mais.

quarta-feira, novembro 11, 2009

Me, te, se

Porque raio se usa o pronome reflexo pendurado nos verbos das crianças, como se houvesse uma conspiração dos infantes contra as suas progenitoras e uma intencionalidade malévola na acção?

Dou por mim a dizer disparates como "ele dormiu-me" ou "ele faz-me". Se me descuido um dia acordo e estou a vestir roupa de andar por casa, calçar chinelos e resmungar uns ai a minha vida pelos cantos, nos intervalos de comentar a meteorologia com as vizinhas e de reclamar que o almoço é servido à uma. Em ponto.

terça-feira, novembro 10, 2009

O melhor do mundo

Ontem precisava de ovos e de desopilar, dei o meu passeio higiénico pelo sapateiro, correios e banco deixando a criança nos braços do pai. Estou de tal forma aparvalhada que entrei num supermercado de bairro com dois corredores e fiquei de boca aberta com as formas e as cores das embalagens nas prateleiras, isto é tão giro que saudades tinha de vir às compras, pensei.

De facto,

Obrigada Shyz

domingo, novembro 08, 2009

New blue eyes

Depois de semanas de contracções e mau estar, em quatro horas apenas o miúdo resolveu a questão. Tive tempo para tudo, para as dores de alucinar e pensar que perdia o juízo, para a salvação terrena da epidural (por um triz não beijei o anestesista de gratidão), para o empurra empurra com o progenitor a ajudar, até chegar à sensação mais bonita que me foi dada até hoje - a do meu filho sair-me de dentro.

Puseram-mo em cima da barriga para o bonding mas esqueceram-se de mo virar de frente, queriam à força que me apaixonasse por uma nuca. Tive de gritar que não o conseguia ver para que o enfermeiro tivesse dó de mim e aí sim, ficámos os dois a olhar um para o outro, com que então és tu era o que se lia em cada um de nós. Tirámo-nos as medidas para termos a certeza de que não nos trocavam na maternidade (eu feliz por ele ter uma grande marca na testa para facilitar o processo), enquanto o pai lhe dava a independência cortando o cordão umbilical (nada me tira da cabeça que o miudinho vai usar esse argumento para lhe sacar o carro para andar pelas naites quando chegar a hora).

Agora andamos a conhecer-nos. Há dias mais fáceis que outros - hoje está como um santo a sorrir na alcofa enquanto dorme, faz apenas uns barulhinhos que me faziam saltar da cama para ver se era uma macueca mas aos quais já me habituei. Tem um ar feliz assim.

Noutras alturas chora desalmadamente e eu não sei que lhe hei-de fazer, tenho de ir por tentativa e erro e nem assim acerto. Rendo-me, ficando com ele no colo a embalar até que se acalme ou desista.

Ainda temos muito a aprender um com o outro. Como todas as mães neofitas tenho medo de fazer asneiras e mortifico-me quando acho que alguma coisa não correu bem e a culpa foi da minha aselhice. Para me consolar dizem-me que o quer que faça vai ser sempre pouco aos seus olhos adolescentes. Encolho os ombros e penso nos seus olhos de adulto inteligente e sensato. Mas o melhor mesmo é poder ficar horas a contemplar o fabuloso azul cor do mar em dia chuvoso que tem agora. Para a semana logo se vê se mudam de cor.


terça-feira, outubro 20, 2009

Na próxima vida

- Já descobri o que quero ser na próxima vida. Ser mamífero dá muito trabalho, carregar a criatura mais de nove meses na barriga e ainda ter de o alimentar do meu corpo. Não, na próxima encarnação quero pôr ovos, já viste o prático que deve ser? É só pô-los, sentar-me em cima deles durante o dia, sem dor nem inchaço nem retenção de líquidos ou contracções durante semanas antes do parto, até dá para pôr o pai ou outro qualquer sentado em cima deles enquanto não chega o dia em que chocam sem dor nem sangue ou anestesias. Uma codorniz, que tem ovos pequeninos, é isso mesmo. Amanhã ligo aos tibetanos para saber que asneiras tenho de fazer para reencarnar em pássaro.

- E se fosses homem?

(silêncio longo)

- Nem me tinha ocorrido.

terça-feira, agosto 04, 2009

Canta a minha alma

Há um ano era assim - começava este blog e eu ia de férias. Hoje foi assim:


Passado este tempo tenho uma pessoa a ser feita dentro da minha barriga, defendi a tese de doutoramento (aprovada com os salamaleques do costume) e estou outra vez de férias. Mais a sul mas sempre em praias maravilhosas. 

No regresso a casa e já com a primeira desova do ano completa, voltarei a dar ímpeto a este blog. Até lá trabalharei arduamente para o bronze, das zonas em que a pele não estica e encolhe e me assustam com vaticínios de panos e coisas terríveis. 

sexta-feira, julho 24, 2009

Greve ao parto

Estou a adorar estar grávida. Se este sair (gostaste do se?), fazemos outro logo a seguir.


(pum. caiu para o lado)

segunda-feira, julho 20, 2009

Win some, lose some

A barriga já ultrapassou o diâmetro psicológico da copa do soutien, o que me permite pela primeira vez em anos poder contemplar o meu umbigo. Em compensação deixei de conseguir ver se tenho a depilação das virilhas bem feita por muito que me dobre.

segunda-feira, julho 13, 2009

Excitação e histeria

Acabam de me dar uma data. 30 de Julho. Passarei a ser doutora por extenso. Estou excitada, com medo, nervosa, ansiosa, aliviada. Ao pé deste parto, o do meu filho vai ser com certeza um passeio no parque.

domingo, julho 12, 2009

Havia alguma necessidade de me contarem isto?

A gravidez está a fazer-me descobrir coisas horripilantes. Que as mulheres gostam de partilhar, numa passagem de testemunho hedionda e sem sentido. Por exemplo, ontem à noite


Estás mesmo gira, a barriga está enorme e maravilhosa. Não te preocupes que depois dele nascer isso diminui tudo. Uma vez quando a minha tinha para aí um mês eu estava sentada na poltrona toda contente porque a barriga já estava como antes, e depois levantava-me e plof, as peles caiam-me pela cintura abaixo. Mas ao fim de um ano vai ao sítio.

Este não é o género de coisas que uma primigesta está interessada em ouvir. O que quer que seja que vá acontecer de horrível, feio, chato e complicado hei de descobrir por mim. E até pode ser que o destino, tac, me poupe a tão triste fado.

Em contrapartida os homens são uns bacanos, o máximo de conversa que fazem é para saber o sexo da criatura. E dizerem-me que estou com umas mamas fenomenais.

quarta-feira, julho 08, 2009

Para as curvas

Barbara Hendricks, 60 anos.



Não sei se fez um pacto com o diabo ou se usa a mesma fotografia há 20 anos. A conferir esta noite, no Jardim do Palácio do Marquês do Pombal.

Conjugalidades

- Ei, quando é que pintaste as unhas dos pés? Estão giras
- Há mais de uma semana

segunda-feira, julho 06, 2009

Genuína preocupação filial

Parece que os bebés gostam de se mexer especialmente quando as mães estão paradas, em particular quando querem dormir. Há quem diga que é a sua altura, há quem defenda antes que têm queda natural para começar a infernizar a vida dos pais e começam a praticá-lo in utero. Venho hoje aqui apresentar uma nova tese: a da genuína preocupação filial.

Eles passam o dia a sentir-nos mexer, falar, rir, gritar, e a uma dada altura nada. Tudo quieto. Nem um aceno de braço para amostra. É apenas natural que a criatura pense "oh diabo, queres ver que a minha velhota quinou?" e começam aos coices até conseguirem uma resposta.

Já estou a preparar uma comunicação para o Journal of Obstetrics and Ginecology, acho que os referees vão apreciar.

sexta-feira, julho 03, 2009

This one’s from the heart

Uma múltipla lançou a ideia do desafio do oráculo do ipod aleatório. Eu que adoro premonições, frases sábias e confúcias como respostas a perguntas concretas não podia falhar.


Diz que as regras são
1. put your itunes / ipod (or your mp3 player of choice) on shuffle.
2. for each question, press the next button to get your answer;
3. YOU MUST WRITE THAT SONG NAME DOWN NO MATTER HOW SILLY IT SOUNDS!


Então cá vai


IF SOMEONE SAYS "IS THIS OKAY" YOU SAY?
Aqui na terra, Clã

WHAT WOULD BEST DESCRIBE YOUR PERSONALITY?
Guerra Santa, Gilberto Gil

WHAT DO YOU LIKE IN A GUY/GIRL?
Don’t go into the barn, Tom Waits

WHAT IS YOUR LIFE'S PURPOSE?
De esquina, Cássia Eller

WHAT IS YOUR MOTTO?
Computer blue, Prince and the revolution

WHAT DO YOUR FRIENDS THINK OF YOU?
The horizon has been defeated, Jack Johnson

WHAT DO YOU THINK ABOUT OFTEN?
The fall of Troy, Tom Waits

WHAT IS 2+2?
Dançar na corda bamba, Clã

WHAT DO YOU THINK OF YOUR BEST FRIEND?
Zé trindade, Skank

WHAT DO YOU THINK OF THE PERSON YOU LIKE?
Stranger on Earth, Lisa Ekdahl

WHAT IS YOUR LIFE STORY?
With every wish, Bruce Springsteen

WHAT DO YOU WANT TO BE WHEN YOU GROW UP?
Something more, Mark Lewis and the Standards

WHAT DO YOU THINK WHEN YOU SEE THE PERSON YOU LIKE?
Cuccurucucu Paloma, Caetano Veloso

WHAT DO YOUR PARENTS THINK OF YOU?
Dá-me lume, Jorge Palma

WHAT WILL YOU DANCE TO AT YOUR WEDDING?
Who wants to be a millionaire? The Thompson twins

WHAT WILL THEY PLAY AT YOUR FUNERAL?
The will to live, Ben Harper

WHAT IS YOUR HOBBY/INTEREST?
De cara a la pared, Llasa de Sela

WHAT DO YOU THINK OF YOUR FRIENDS?
La canzione del amore perduto, Fabrizio di André

WHAT'S THE WORST THING THAT COULD HAPPEN?
Balada, Camané

HOW WILL YOU DIE?
En la casa, Gabriel o Pensador

WHAT IS THE ONE THING YOU REGRET?
Don’t, Seu Jorge

WHAT MAKES YOU LAUGH?
Tell it to me, Tom Waits

WHAT MAKES YOU CRY?
Bow down, Housemartins

WILL YOU EVER GET MARRIED?
Oran Marseille, Khaled

WHAT SCARES YOU THE MOST?
El viento, Manu Chao

DOES ANYONE LIKE YOU?
Pela internet, Gilberto Gil

IF YOU COULD GO BACK IN TIME, WHAT WOULD YOU CHANGE?
That was your mother, Paul Simon

WHAT HURTS RIGHT NOW?
Goodnight Irene, Tom Waits

WHAT WILL YOU POST THIS AS?
This one’s from the heart, Tom Waits & Crystal Gayle

(o facto de ter a discografia completa do Waits no ipod é capaz de introduzir algum viés nesta coisa)

quinta-feira, julho 02, 2009

Deus não dorme

Enviou-me um arcanjo em forma de vintão nadador de mariposa, duas filas ao lado. Enchi-me de forças e ultrapassei pela primeira vez a austríaca. O facto de ela estar a 3 semanas do parto e não poder com uma gata pelo rabo é apenas um detalhe. Right.

terça-feira, junho 30, 2009

Em forma de assim

Há uns tempos a minha velhíssima avó foi parar ao hospital com uma hemorragia do caraças. Eu e os meus primos lá fomos a correr, para o que fosse preciso. O meu tio mais novo, em completa negação da orfandade iminente, tentou traquilizar-nos (se?) dizendo que as pessoas não morriam assim de um momento para o outro.

Ficámos sem palavras para lhe explicar que é exactamente assim que se passa. Num momento estamos cá e noutro, às vezes sem um pré-aviso sequer, pumbas já era.

Nesta semana foi a Farraw, depois de anos de doença, o Michael, pumbas, e agora a Pina Bausch - 5 dias depois do diagnóstico.

Eu cheia de vida dentro de mim, só me apetece gritar take me away from all this death. A ver se há um drácula que me valha.

segunda-feira, junho 29, 2009

Ser mulher é

numa pausa entre a correcção do capítulo 5 e 6 da tese, ir à casa de banho pintar as unhas dos pés.

sábado, junho 27, 2009

PYT

Do Thriller esta era uma das minhas preferidas. Tinha a certeza que a cantava só para mim de cada vez que a agulha do pick-up passava pela faixa 8, lado B.

Com ele aprendi o que significa TLC - tender love and care. Nunca lhe fizeram um vídeo, o que é a prova definitiva de que era a única destinatária desta letra e música.




A sua música e dança, a provarem a imortalidade do génio.

sexta-feira, junho 26, 2009

It's Charlie, Angel. Time to go to work

Adorava esta série. Desejava ardentemente ser tão elegante e perfeitinha como a Jaclyn Smith, e detestava a beleza loira inatingível da Farraw Fawcett e o seu penteado à Margarida Marante. A Kate Jackson não me parecia concorrência difícil. (competitiva a menina, heim?)



Para além do Michael Jackson, ainda me estou a recompôr do choque, ontem também morreu a Farraw. Tinha 62 anos e um cancro do cólon.

sexta-feira, junho 19, 2009

Ele

Um dia comecei a senti-lo. Primeiro tímido, um safanãozinho por dentro da barriga. Depois mais uns quantos, como se fosse um hamster às voltas numa roda de plástico. Habituei-me a esses sinais de vida que vão aumentando de intensidade, a sua prova de existência diária.

Ainda estamos em estado de graça um com o outro, não me chateia nem me pesa demasiado. Ando toda inchada mas apenas de orgulho pela quantidade de vezes por dia que oiço quão bonita me faz esta gravidez, mais porque de facto o sinto. Sinto-me bonita e atraente, feminina e elegante, com uma barriga orgulhosa e um sorriso que o demonstra.

Deitada no sofá enroscada com o autor da sua existência com a mão na minha barriga, sentiram-se pai e filho. A ateíssima trindade começou.

quarta-feira, junho 10, 2009

As aulas

Apresento-me nas aulas de hidroginástica, visto-me no balneário e descubro que tenho de fugir com os olhos dos espelhos para evitar a visão ridícula das minhas curvas enfiadas naquele fato de banho demodé, acompanhado da espartilhante touca e andar à pinguim que já me começa a despontar dos tornozelos.

Sigo as restantes barrigudas pela piscina fora, como uma ave migratória a reconhecer caminho, com paragem no duche, e entro na pista que nos é destinada. Há que nadar só com braços ou só com pernas de um lado para o outro agarradas a um chouriço flutuante de cor garrida, depois das primeiras voltas em que sinto os músculos a funcionar começa a assaltar-me o síndrome barco a remos no campo grande, de vez em quando ultrapassada por uma austríaca que anda na bisga bem como, oh humilhação, uma que já está quase no termo mas que pelos vistos tem os bicepes em forma.

Olho com o desespero de uma naufraga em volta da piscina, à procura dos giraços que costumam salpicar os bons ginásios. É sabido que as pessoas se esforçam mais na presença de elementos do sexo oposto com aspecto lavado e atraente. Mas nada. Nem mulheres nem homens, apenas um gebo que deve ter passado há pouco dos 18 anos a fazer de vigilante das pistas onde estamos as grávidas com uma sensaborona quarentona a repetir "e vai", e dois ou três utilizadores livres que já gozam há bastante do desconto da terceira idade e a quem vejo com mais frequência agarrados à borda a ganhar fôlego que outra coisa.

No fim da aula sigo a austríaca, ave líder do bando, vou baralhada pelo cansaço e sigo-a para dentro de uma casa de banho em vez do balneário. Desculpo-me como consigo, ainda me resta um pouco de voz, lavo-me, visto-me e arrasto-me dali para fora.

Comeria um boi se tivesse forças nos braços para levantar o garfo e a faca, mesmo na ausência de Adonis parece que a ginástica faz efeito. Pelo sim pelo não deixo a minha recomendação no clube. É um borracho para a pista do canto, se faz favor - tenho uma austríaca para ultrapassar.

terça-feira, junho 02, 2009

Já sereia não sou!

Comprei um fato de banho modelo tia-avó que nada bruços de cabeça de fora como os perdigueiros para não estragar a mise.

Experimentei-o e fiz a asneira de me olhar ao espelho, transformei-me numa visão dantesca de mulher disforme, com as curvas todas apertadas numa malha de nylon espartilhante e anti-sensual.

- Querido, fico horrível com o modelo novo

- Óptimo. Para gira já bastam os outros.


(nota mental: nunca deixá-lo apanhar-me viva com esta porcaria agarrada à pele)

terça-feira, maio 26, 2009

This is dedicated to the one I love

Esta tese é dedicada ao meu Avô

Médico, professor, investigador
amante das coisas belas, na natureza e na arte,
a minha fonte inesgotável de amor e de desafios intelectuais.

Enquanto dava voltas à prosa para lhe dedicar o volume, cheio de coisas incompreensíveis para a maioria dos mortais (e para os imortais também, mas não creio que esses o venham a folhear), reli o que me escreveu quando me ofereceu a sua tese.

Para a "Favorita",
do Avô

Entre lágrimas e saudade, lá consegui acabar a dedicatória. Há muitas pessoas que o fazem "à memoria de", mas isso para mim não faz sentido. Eu não quero relembrar o que restou dele nos meus neurónios, quero que ele fique por tudo o que foi, pessoa inteira cheia de defeitos e muitas mais qualidades. Um homem difícil que para mim era simplesmente encantador. Faz-me falta todos os dias, mas está sempre presente. Mesmo que me tenha feito a desfeita de se ir embora.

sexta-feira, maio 22, 2009

Exactamente

Inscrevi-me na hidroginástica para grávidas, a ver se me mexo para desmoer a gordura extra para além das coisas boas que dizem ter para o estado de graça.

Procuro na gaveta os fatos de banho de desporto de outrora, descobrindo que devem ter encolhido porque já caibo mal lá dentro. Pergunto-me se não seria melhor comprar um que tapasse mais de um terço das minhas mamas.

Decido fazer o teste conjuge e vou até à cozinha mostrar-me enquanto ele prepara o pequeno almoço. Depois de uns segundos a olhar-me em silêncio apenas consegue perguntar a medo Isso é exactamente o quê?

Está visto que terei de entrar em (mais) despesas.

quarta-feira, maio 20, 2009

Dona redonda e a sua gente


Aos quatro meses e meio e já com uma pança e pêras. O que lhe vale é ter tudo no sítio, dedos das mãos, dos pés, pirilau e 22 pares de cromossomas, mais o X da mãe e o Y do pai.
Se virem passar um pinguim vestido de miúda não se assustem, sou eu.

quarta-feira, maio 13, 2009

Piadas semânticas

Receber mails divertidos logo ao abrir o pc não é habitual. Ainda não consegui de parar de rir com este.



They said a Blackman will be President of America only when pigs can fly.

Barack Obama has been in power 100 days and bang!


Pigs flu!

terça-feira, maio 12, 2009

A emissão segue dentro de momentos

Ontem vi um programa mais divertido que os contemporâneos, apesar de lhe faltar a brasa do Nuno Lopes (sou fã e tenho direito a apetites).

A Carmelinda Pereira parecia um personagem do Good Bye Lenin com ovo a cavalo, deve ter entrado em coma no início do PREC e desde que acordou têm conseguido esconder-lhe a realidade do país em que vivemos.

Ao seu lado um representante do PCTP/MRPP sem 1/10 da piada ou 1/100 da inteligência e perspicácia do Garcia Pereira, com 10 vezes mais agressividade e da gratuita, insultando a apresentadora pelo alinhamento das perguntas, cumprindo o legado do grande educador do povo português explicando-lhe à frente de todos nós o que ela devia ter feito em vez das escolhas que seguiu.

A Ilda foi ao consultor de imagem e trouxe uns olhos soberbamente sublinhados, apesar de continuar a carregar no same old play button.

O Vital estava mais vendido que um magalhães na Feira da Ladra, a querer defender coisas nas quais não acredita e sem a força e a qualidade que sempre lhe reconheci.

O Paulo Rangel tinha uma cor acinzentada, parece-me que precisa de menos papas e mais vegetais e fruta, e um raiozito de sol para fixar a vitamina A, mas isto sou eu que não tenho qualquer pasta governativa.

A Laurinda Alves continua com síndrome X frágil mais acentuado que nunca, fez questão de nos contar dos casos da vida real que encontrou por esse Portugal em vez de responder às perguntas que lhe eram feitas. Minto: quando questionada sobre o tratado de Lisboa anunciou impante, como quem descobre o ovo de colombo ou grita que o rei vai nú, que as bolsas erasmus e programas comenius são muito mais importantes que qualquer tratado, enquanto repetia o mantra "não perguntemos o que a UE pode fazer por nós, mas sim o que podemos fazer pela felicidade uns dos outros", com Kenedy a dar voltas na tumba à sua conta.

Havia ainda um senhor que parecia um alho francês com orelhas do tamanho do aeroporto da portela, outro de cara de prepúcio triste e um sosia do irmão do Hugh Jackman no X-men (mas sem garras sujas de preto, que tivesse notado).

Os únicos que fizeram intervenções interessantes, pertinentes e inteligentes foram o Miguel Portas e o Nuno Melo (que apesar da mise não é um tipo nada parvo). Não estava a pensar votar em nenhum dos dois, o que me aborrece como quando o Benfica perde jogos.

Alguém podia ter avisado a Fátima que não é boa ideia sentar 13 à mesa.

quinta-feira, maio 07, 2009

Pensamentos soltos e dúvidas maternais

Já estou barriguda mas ainda não sinto a criatura. Insisto em pôr creme, agora duas vezes ao dia, com esperança. Continuo a engolir o folicil de manhã e a mastigar o cálcio depois do almoço. De resto tudo muito bem, sem enjoos nem chatices.

Bem, nem tudo. Começo a ter um nervoso miudinho pela amniocentese que se aproxima. Que se tudo corre bem na intervenção, se tenho de ficar quieta muito tempo, se o resultado vem com 46 cromossomas com os genes no sítio certo.

Ofereceram-me o primeiro par de meias e fiquei meia hora encantada de boca aberta a olhar para aquela maravilha. Neste momento ele cabe inteirinho dentro daquela organização de lã e algodão, mas há de chegar o tempo em que apenas um pé e outra em que nem isso. Olho para crianças na rua, miúdos já grandes e penso que um dia ele vai ter aquele tamanho. Será que vai gostar de almondegas com puré como eu?

As pessoas, especialmente as mulheres, contam-me as histórias mais insólitas e tolas. Que amamentaram até aos dois anos de idade da criança, que me tras à cabeça uma quase erotização da ligação mãe filho que me soa pouco saudável. Que a episitomia isto e a cesariana aquilo. Não quero saber, não perguntei, não me contem. Nem leio nada sobre o desenvolvimento embrionário nem sintomas da gestação, para não correr o risco de desatar a sentir coisas que não são as minhas.

Ando sem paciência para as parvoices que me acontecem no trabalho, e para gente tola que não sabe o que anda cá a fazer na Terra. Enterneço-me com pessoas atentas e gentis, e com os comentários simpáticos de quem passa no blog.

Tenho tido pouco tempo para cá vir e sinto-me culpada, mas a minha vida tem tido poucas graças para contar. Vou-me esforçar para que mude, que aborrecimento.

Hoje andei de saltos altos o dia todo, que me moeram os pés até os deixarem em estado de hamburger pronto a grelhar. Recuso-me a ser uma grávida pata choca enquanto o puder evitar. Uso vestidos justos e decotes generosos, que gritam que estou à espera de bebé mas não deixei de ser mulher. Olham-me com estranheza e curiosidade na rua. Dizem-me que estou bonita e eu gosto de acreditar que sim.

quinta-feira, abril 30, 2009

Ceci n'est pas une pine

No início da semana 12 lá fomos para a ecografia para ver a translucência da nuca e aquelas coisas todas que os médicos querem medir, na esperança de que não se visse o sexo - sabia que nesse caso a probabilidade de ser rapariga era maior.

Começamos a ver a criatura, de lado, de frente, a borboleta que é o cérebro, o coração a bater rápido. Queriam ver os braços e as mãos mas ele com uma delas agarrada à mona, olho para o seu progenitor que tinha o braço no mesmo preparo. A hereditariedade lamarckista é surpreendente, peço-lhe já enervada que largue o cabelo para contarmos os dedos à criatura. Estranhamente o filho segue-o.


Perguntam-me se eu já tenho preferência por sexo, como não se até já há nome - o meu instinto maternal sabe carregar uma Maria Leonor no seu ventre. A médica olha para mim levantando as sobrancelhas, está a ver aqui as pernas abertas? Este alto grande no meio? Normalmente não se vê às 12 mas este não deixa dúvidas, tem pilinha.




No meio dos pulos e saltos que dava na minha barriga, e eu ainda sem sentir esta criatura com tanta genica e força de impulso, parece fazer do meu útero um recreio divertido, teve tempo de se virar de rabo para a câmara qual next geração rasca e melhorar o protocolo. Para além de se baixar e exibir o traseiro, abriu bem as pernas para se visse o que tem no meio delas. Mãe, Maria Leonor o c-asteriscos!. E depois continuou nas suas piruetas.

Acho-lhe graça. Sempre gostei de gente que luta pelo que é seu. O futuro promete belas e coloridas discussões.

terça-feira, abril 28, 2009

Conversa de gajas

Uma viagem de carro, quatro mulheres, conversas sobre tudo e nada.

- A Diana casou-se por aqui
- A Diana casou-se?
- Quem é a Diana?

Uma grávida, outra a amamentar, uma a pensar no assunto e a quarta farta de conversas de crianças.

- Tens de praticar os músculos do interior da vagina, senão com o parto natural essa porcaria alarga-se toda e ficas feita ao bife. Pensa que estás a empurrar uma ervilha lá no fundo, sem mexer os músculos do rabo

(todas em silêncio a tentar)

- Eles dizem para fazer isto até no trânsito, não é?
- Sim, mas desisti porque deixava sempre passar os sinais verdes e levava apitadelas.

(continuamos)

- Posso pensar antes numa pila? é que com ervilha tenho dificuldade em visualizar
- Sim, sim, eu também
- Podem pensar no que quiserem, é preciso é praticar

(concentradíssias em silêncio, cheias de medo do alargamento do canal)

- Olhem lá, isto não dá para excitar um bocado? É que não sei se é do vinho ou do pompoarismo, mas de repente parece-me que vocês estão a mais no carro...

Rimo-nos, abrimos a janela e suspendemos a coisa.

A que guia começa a ficar aflita, tem o leite a subir e nunca mais chegamos a casa para esvaziar as mamas na criança.

- Dói-me, isto começa a encher e fica duro. Apalpa lá aqui

E todas a mexer e a compararem com as suas, pois é, de facto.

- Ester, não queres ver o que te espera?
- Obrigada, já me chega daqui a uns meses. Não de desconcentres, estamos quase a chegar.

Já tinha saudades destas amigas.

quinta-feira, abril 23, 2009

Chapéus há muitos

Decidimos então ter chegado a altura de dizer a toda a gente. Descobri que ser mulher nos trinta estraga por completo o efeito surpresa do que tenho para dizer, ainda não acabei a frase "tenho uma novidade" e já me atiram "estás grávida!". Ou então, ainda não decidi qual a pior, olham-me como se fosse um milagre de Lourdes, salva in extremis da esterilidade para todo o sempre.

É coisa que aborrece um pouco, mas já delineei plano para combater a praga - anunciar outra boa nova só para despistar. Tenho uma grande novidade, descobri a cura para todos os cancros! ou Inventei a vacina para o HIV 1, e já estou a trabalhar para o 2, ou Encontrei uma solução para a crise económica mundial, ou mais prosaicamente Tenho úvula bífida, só 1% de caucasianos é que a têm, não é o máximo?

quarta-feira, abril 22, 2009

Apetites

Durante o ritual nocturno de espalhar hidratante por toda a área de pele que vai esticar e encolher (a parte do encolher rapidinha, sim?), coxas, ancas, barriga, mamas, sinto-me uma culturista brilhante e escorregadia, "apetecia-me uma rapariga" atirei-lhe, com a cabeça de lado meio lânguida para o convencer das vantagens.

Agora? responde supreendido, a tirar as medidas ao colchão.

Estou a falar da criatura, estás parvo?

Sei lá, não é suposto as grávidas terem apetites insólitos?

(nota mental: não voltar a ler a Happy com ele por perto)

segunda-feira, abril 20, 2009

Carrossel do oito

Voltou a acontecer. Vi o vídeo da já famosa Susan Boyle e comecei a chorar; claro, sempre menos que com o original espanhol do anúncio da coca cola, que ao segundo 30 me faz abrir as comportas e aos 45'' já estou a soluçar.


Vou passar os próximos meses assim ou posso esperar melhoras?

sábado, abril 18, 2009

Na televisão

Fui com as angústias caladas para a primeira ecografia. Se não estava dentro do útero, se o coração não funcionava, ou afinal dois ou mais inquilinos a incharem-me a barriga que já nem fecho o botão das calças sem ter chegado ao 2º mês, chiça.

Ele agarrou-se à Sábado, eu aproveitei para ler fantasias eróticas e escapadas sensuais na Happy. Ele espreitou ao ver o título "e se fizéssemos a três?", mas fingiu que continuava a dedicar-se ao caga opiniões rogeiro.

Mandaram-nos entrar e a mim despir-me toda da cintura para baixo. Ele nunca tinha ido a uma consulta de outra pessoa, ainda para mais com um homem a mexer-me nas partes baixas, não sabia bem onde se devia pôr nem para onde olhar. Por sorte há sempre tecto e paredes.

A enfermeira pediu-me para sentar na borda da almofada, enquanto me tapava com o lençol. O médico sentou-se do meu lado direito, ele do lado esquerdo. Começou a explicar que como ainda estava de pouco tempo (teoricamente entre 7 e 8 semanas) iria fazer a eco com sonda vaginal.

Nisto enfiou um preservativo na ponta da dita, besuntou com gel, ele ainda pensava será que lhe vai enfiar aquela coisa pela... Puf, já lá estava dentro.

Foi aí que o conhecemos, nem tivémos dúvidas.

Uma cabeça enorme, dois braços e duas pernas. Mexeu a sonda e vimos a coluna, depois o coração a bater a bater. Está de mais tempo do que pensava, disse-me. Afinal são 9 semanas e 1 dia. Ainda pensei em perguntar se não seria grande para a idade, mas achei que era capaz de ser cedo para sintomas de orgulho maternal e certeza da superioridade da prole. Que seja, 9 semanas e 1 dia, acho que consigo viver com isso. Deu-me cabo das contas, é o que é. Uma criatura cheia de vontade de ser, a passar todas as barreiras de controle que pensávamos ter garantido. Um início de vida com proactividade e determinação. A coisa promete.

quinta-feira, abril 16, 2009

Primeiros sintomas

Nada de enjoos ou nauseas como temia, nem dores em lado nenhum. Não fosse o período estar ausente e o persistente tracinho azul e nem dava conta do que se passa dentro de mim. Não? Bem, há uma zona que insiste em alterar-se.

De repente todos os meus soutiens se tornaram pequenos para tanto volume. As camisas deixaram de apertar; quer dizer os botões até entram na casinha mas o bocado de tecido entre dois parece uma gaita de foles exibicionista.

Ando na rua, tenho reuniões, encosto-me à secretária e de vez em quando plof, lá salta um mamilo que não se aguenta mais naquele bocado de tecido.

Estou cheia de medo do que se irá passar daqui para a frente, e temo bem ter de pedir o número ao estilista da Lolo Ferrari.

Não consigo encontrar nenhuma vantagem biológica ou fisiológica para este efeito secundário a tanto tempo de distância da amamentação, a única resposta é ser um bombom para o progenitor masculino da criatura que trago dentro de mim. Presumo que a vantagem evolutiva que dava às fêmeas seria a de impedir que eles fossem copular com outras no mesmo período, de forma a evitar que as inseminassem e assim tivessem mais filhos que competissem com os seus em recursos e protecção do pai.

Análises biológicas à parte, queixava-me deste fenómeno ao meu partner in crime enquanto me despia para dormir.

"Mas não, que disparate, não estão assim tão maiores, deixa cá olhar bem para.... WOHA!!!""

Portanto vou passar os próximos tempos a contemplar o meu umbigo, enquanto conseguir, está visto que quando a criança nascer vou deixar de o vislumbrar.

terça-feira, abril 14, 2009

O dia em que o tracinho azul apareceu

Mais de uma semana de atraso, coisa que nunca aconteceu nestes anos todos que levo de tortura mensal. O corpo ameaçava desatar a deitar a prestação devida mas nada de aparecer, decidi comprar o teste na farmácia para tirar o fantasma e esperar tranquilamente o comboio que insistia em atrasar-se.

Acordei, deitei os líquidos indicados na ponta absorvente do aparelho de plástico que não teve dúvida. Quando lá chegou por capilaridade o sinal positivo só faltava gritar. Que grande porra, urrei, vou lavar os dentes.

Ele entrou na casa de banho olhou para a cruzinha, parabéns, voltou para a cama onde ficou à minha espera.

Depois de nos olharmos e discutirmos alguns detalhes práticos sobre o que fazer, desatei em pranto. Não vou poder comer alface, gritei-lhe. Mas tu não gostas de alface, tentou. Sim, mas se quiser como-a, e agora não vou poder.

Três lenços de papel mais tarde abraçou-me com o seu sorriso bonito. Vamos ser pais, isto é uma coisa boa. Não me faças isto que volto a chorar, e se bem o disse melhor o fiz. Isto das hormonas é exactamente como o pintam.

sexta-feira, abril 10, 2009

Mais um

Sabem quais são, aqueles posts que não têm outro propósito que fazer constar aos leitores que ainda se está vivo apesar de não se ter tema, inspiração ou vontade de escrever no blog? Este é um deles.

sábado, abril 04, 2009

O que será? (À flor da pele)

Há algo de muito errado nos químicos que se passeiam pelas minhas veias. Passei o serão a ver os discursos dos óscares, desde a Audrey Hepburn com as Roman Holidays ao Voando sobre um ninho de cucos do Jack Nicholson, passando pelo Filadélfia do Tom Hanks e o Shindler's list do Spielberg, Há lodo no cais e o Marlon Brando lindo, e eu a chorar como uma parva.

sexta-feira, abril 03, 2009

Dreams are my reality

A meio da madrugada, quando estava a tentar adormecer depois de uma insónia inesperada ou acabada de acordar, não me lembro bem, cozinhei um texto para o blog que me pareceu genial. Ainda tentei levantar-me para o escrever nalgum lado, de tal forma brilhante me parecia aquele bocado de prosa, mas o cansaço ganhou-me. Depois do pequeno almoço tentei reconstrui-lo, tinha a ver com meter angústias e silêncios dentro de sacos de plástico com orelhas e atirar para o contentor verde antes da recolha do lixo. Lembro-me que das partes que mais me pareceram importantes na altura eram os detalhes das orelhas dos sacos, daqueles de supermercado, e dar-lhes dois nós apertados. Fora da fase REM a coisa não me pareceu tão poética. Talvez quando fizer um blog para pessoas com insónia a coisa tenha mais sucesso.

Entretanto lembrei-me do stand-up do Eddie Murphy de há 26 anos atrás. Sempre tem mais graça que os meus sonhos.


segunda-feira, março 30, 2009

Ainda o teatro - a verdade escondida

Todos os anos é convidada uma personalidade de importância mundial no Teatro para escrever a mensagem que será lida em todas as salas de espectáculo do mundo antes da peça dessa noite. Este ano coube a Augusto Boal a tarefa; actor, dramaturgo, encenador, criador do Teatro do Oprimido e fundador do Teatro A Barraca nos idos tempos do pós 25 de Abril. Aqui fica.

Todas as sociedades humanas são espetaculares no seu cotidiano, e produzem espetáculos em momentos especiais. São espetaculares como forma de organização social, e produzem espetáculos como este que vocês vieram ver.

Mesmo quando inconscientes, as relações humanas são estruturadas em forma teatral: o uso do espaço, a linguagem do corpo, a escolha das palavras e a modulação das vozes, o confronto de idéias e paixões, tudo que fazemos no palco fazemos sempre em nossas vidas: nós somos teatro!

Não só casamentos e funerais são espetáculos, mas também os rituais cotidianos que, por sua familiaridade, não nos chegam à consciência. Não só pompas, mas também o café da manhã e os bons-dias, tímidos namoros e grandes conflitos passionais, uma sessão do Senado ou uma reunião diplomática – tudo é teatro.

Uma das principais funções da nossa arte é tornar conscientes esses espetáculos da vida diária onde os atores são os próprios espectadores, o palco é a platéia e a platéia, palco. Somos todos artistas: fazendo teatro, aprendemos a ver aquilo que nos salta aos olhos, mas que somos incapazes de ver tão habituados estamos apenas a olhar. O que nos é familiar torna-se invisível: fazer teatro, ao contrário, ilumina o palco da nossa vida cotidiana.

Em Setembro do ano passado fomos surpreendidos por uma revelação teatral: nós, que pensávamos viver em um mundo seguro apesar das guerras, genocídios, hecatombes e torturas que aconteciam, sim, mas longe de nós em países distantes e selvagens, nós vivíamos seguros com nosso dinheiro guardado em um banco respeitável ou nas mãos de um honesto corretor da Bolsa - nós fomos informados de que esse dinheiro não existia, era virtual, feia ficção de alguns economistas que não eram ficção, nem eram seguros, nem respeitáveis. Tudo não passava de mau teatro com triste enredo, onde poucos ganhavam muito e muitos perdiam tudo. Políticos dos países ricos fecharam-se em reuniões secretas e de lá saíram com soluções mágicas. Nós, vítimas de suas decisões, continuamos espectadores sentados na última fila das galerias.

Vinte anos atrás, eu dirigi Fedra de Racine, no Rio de Janeiro. O cenário era pobre; no chão, peles de vaca; em volta, bambus. Antes de começar o espetáculo, eu dizia aos meus atores: - “Agora acabou a ficção que fazemos no dia-a-dia. Quando cruzarem esses bambus, lá no palco, nenhum de vocês tem o direito de mentir. Teatro é a Verdade Escondida”.

Vendo o mundo além das aparências, vemos opressores e oprimidos em todas as sociedades, etnias, gêneros, classes e castas, vemos o mundo injusto e cruel. Temos a obrigação de inventar outro mundo porque sabemos que outro mundo é possível. Mas cabe a nós construí-lo com nossas mãos entrando em cena, no palco e na vida.

Assistam ao espetáculo que vai começar; depois, em suas casas com seus amigos, façam suas peças vocês mesmos e vejam o que jamais puderam ver: aquilo que salta aos olhos. Teatro não pode ser apenas um evento - é forma de vida!

Atores somos todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade: é aquele que a transforma!

sexta-feira, março 27, 2009

Dar novos mundos ao mundo

Quando era miúda gostava que fizessem bolos para que eu pudesse rapar a tigela. Agora que sou grande faço-os eu, mas continuo a rapar na mesma. Costumo ficar suja desde a ponta do nariz até ao queixo, de orelha a orelha (passa-se o mesmo fenómeno quando como gelados, mousses ou pastéis de nata, um mistério que ainda não consegui solucionar). Hoje consegui conquistar um novo território até agora inexplorado. Até os cabelos ficaram impregnados de papa amarelada. Ah tigre.

Teatro

Desde 1961 que 27 de Março é o Dia Internacional do Teatro. Há muitas comemorações e botaduras de discurso, mas uma coisa importante e democrática é que todas as peças que vejam hoje são grátis. Escolham a que quiserem mas não deixem de ir. Há lá coisa mais mágica que ver um acontecimento que apenas se passa naquela noite, para aquelas pessoas. História(s), lugar(es), personagens, pessoas, gente. E nós ali a vermos o milagre do teatro. Eu vou.

segunda-feira, março 23, 2009

Barack Obama Superstar

Não via tantos aplausos num programa de televisão desde que o George Clooney entrou numa sala cheia de gajas, incluindo a apresentadora.





Nesta segunda parte ele (deveria escrever Ele?) diz uma coisa importantíssima: queremos que as nossas crianças desejem ser engenheiros ou cientistas, que inventem e construam coisas que farão deste país grande. Ser gestor ou financeiro para fazer muito dinheiro não é coisa em que nos interesse investir.



quinta-feira, março 19, 2009

A vida é bela

Chegar a casa e encontrar as compras do supermercado encomendadas online todas arrumadas no sítio certo, o frigorífico, congelador e cesta de frutas cheios, uma perna de borrego assada com batatas e hortaliça cozida, a casa limpa e a cheirar a lavado. Avé world wide web, avé empregadas domésticas, avé multibanco. O dinheiro não compra felicidade, mas manda vir.

quarta-feira, março 18, 2009

A guerra dos mundos


Na página 13 do Público de hoje: o título já assustava "Relatório revela epidemia de HIV e SIDA na capital dos Estados Unidos". A peça começa com "Três em cada dez habitantes com mais de 12 anos na cidade de Washington, Estados Unidos, estão infectados com o vírus do HIV ou sofrem de SIDA".



Neste momento creio que até o meu miocárdio parou e andou um bocadinho para trás, qual Button fisiológico. 3 em 10? 30% da população de Washington infectada? Game over, acabou-se, se isto está assim em DC imagina em Beja.



Ainda em hiperventilação consigo ler a caixinha de baixo que me garante afinal serem só 3%. Ufa. É grave claro, epidemia declara-se a partir de 1% incidência, mas chiça 30! É que estando o número escrito por extenso nem podem reclamar ter sido gralha de zero a menos. Acho que lhes vou pedir uma indemnização por danos morais. Quer dizer, se os lucros da Sonae cairam 71% se calhar não vou muito longe...

domingo, março 15, 2009

Quiz da D. Ester

Quem disse: "Portugal fez-se para os portugueses. Portugal é dos portugueses e é para eles que nós temos que trabalhar para criar as condições para que sejam atraídos pelo nosso país"

a) José Pinto Coelho, PNR
b) Paulo Portas, CDS/PP
c) Manuela Ferreira Leite, PSD
d) Francisco Silva, Antral


Resposta aqui

sexta-feira, março 13, 2009

Tem dias, mas ainda se conjuga no presente do indicativo

Resposta aos leitores que aqui vêm parar perguntando ao google como era a vida sexual de ester.

terça-feira, março 10, 2009

First we take Tehran

Passei a minha infância a ouvir noticiários sobre a guerra Irão-Iraque, terras estranhas e longínquas onde pareciam só se interessar por andar à batatada ad eterno para me atrasar a chegada dos programas realmente interessantes. Lembro-me de perguntar, desesperada entre duas garfadas de puré de batata, se os adultos achavam que algum dia aquela guerra ia acabar. Outras se seguiram. Mas nesta semana poderei ir saber o que andaram eles a fazer antes, durante e depois das 1.5 milhões de vidas perdidas durante os noticiários da RTP1.

domingo, março 08, 2009

Ser mulher

Nasci mulher numa tarde de inverno, surpresa para todos que nessa altura não havia ecografias para prever géneros in utero. Depois de passado o desconsolo aos meus pais, que tinham esperança de acertar pelo menos à segunda, aproveitaram para capitalizar o que tinham aprendido sobre dobrar fraldas de pano para raparigas e a reciclar o guarda roupa da mais velha.

Enquanto fui crescendo, aprendi que as diferenças entre nós e eles se baseavam nos apêndices entre as pernas e pouco mais. Não havia distinção entre brincadeiras nem autorizações especiais para rapazes, a igualdade morava lá em casa.

Na escola, as coisas eram um bocadinho diferentes. As raparigas juntavam-se em bandos para saltar ao elástico, à corda e outras actividades interessantes, os rapazes gostavam de correr com bolas, fossem de futebol ou berlindes. Havia apenas uma coisa que cativava todos; uns pneus enormes, deviam ser de camião ou tractor (pareciam-me gigantescos, provavelmente não o eram), eu gostava de me encaixar lá dentro e que me fizessem rolar pelo recreio fora até ser parada com o embate numa parede qualquer ou apenas pelo atrito da borracha no cimento. O frissom de não ver, de não controlar, de não saber quando ia parar, era indescritível.

Na sala de aula lembro-me que a professora da 3ª e 4ª classe adoptou uma técnica pedagógica que sempre me escapou ao entendimento. Dividia os alunos em grupos: os elevados, os bons, os médios, os medíocres e os maus. Eu era a única rapariga na mesa dos elevados, e várias vezes os apanhei em conspirações para me expulsarem da sua companhia para conseguirem ser os mestres do universo da sala da Sra. D. Eduarda. Houve uma semana em que desci as notas de propósito e passei para a mesa dos bons, que alívio. Era gente mais interessante e mais acolhedora. Infelizmente a professora percebeu a marosca e lá voltei para os elevados, a ter de levar com aqueles embriões de criaturas intragáveis que achavam giro terem clubes de bolinha e sentirem-se os maiores lá da esquina.

Em casa nunca percebi que havia coisas que mulheres ou homens não pudessem fazer. Tanto a minha mãe como o meu pai trabalhavam e muito, a empregada doméstica era a Manuela e o baby sitter era o Francisco. Já nessa altura a minha mãe não chegava a casa às 5h, os empregos eram até ao fim do dia, e havia quem tivesse de ficar connosco. Às vezes eram os avós, mas mesmo aí tanto eles como elas se empenhavam em estar com as miúdas.

Comecei a entender que as mulheres tinham mais deveres que direitos quando a minha mãe achou que já tínhamos idade para ouvir as suas queixas. Que tinha de trabalhar o dobro deles para provar o seu valor para além dos saltos altos, que os lugares de topo estavam cheios de gravatas, que votar era um direito recentemente adquirido, que tantas das coisas que eu dava como normais existiam graças a tantas pessoas antes de mim terem lutado por elas e tantas vezes terem pago preços demasiado altos. Percebi então que a mesa dos elevados era uma estranha representação do que era o mundo e que noutros tempos eu nunca poderia estar ali sentada. Nem poderia ir à escola, na verdade.

Eu tenho muita sorte. Pude estudar o que quis, escolher os trabalhos que mais me interessavam nos sítios que queria, nunca senti qualquer diferença ou condicionamento nem tratamento especial por ser mulher. Estou muito grata a todas os homens e mulheres que fizeram com que isto fosse possível.

No dia em que fiz 18 anos fui-me recensear à Junta de Freguesia com muito orgulho, vim de lá a contemplar o meu cartão de eleitor como um crente para uma pagela. Anos mais tarde vi um documentário sobre as primeiras eleições livres na África do Sul, depois da queda do apartheid. As filas para votar eram quilométricas, as pessoas vinham de todas as aldeias e dançavam e cantavam nas horas, dias, em que esperavam para poder finalmente serem pessoas e cidadãos por inteiro. E mulheres, muitas. Percebes, perguntou-me a minha mãe entre kleenexes. Claro que sim, respondi depois de me assoar.

quinta-feira, março 05, 2009

Quando for grande quero ser assim

Ou melhor, quero um par assim agora. Graças ao twitter (sim, já lá estou) e ao Sir Ken Robinson descobri este vídeo magnífico. Nota mental: nas próximas presidenciais apoiar o Manuel João Vieira, se se mantiver a promessa de um bailarino cubano para todas as mulheres e uma patinadora artística para todos os homens (há aquele detalhe de que só desiste se for eleito, mas não custa sonhar).
Com diz Sir Ken, Dance on!


segunda-feira, março 02, 2009

Um lugarzinho no céu

Estreia sexta feira


Fidélio, o Toxicodependente, Casimiro, o Jornalista, Mirov, o Ucraniano e Anunciada, empregada doméstica. O que é que os une naquela zona onde ninguém passa, onde ninguém vive?

FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA

Texto: Joaquim Paulo Nogueira

Encenação: Joaquim Paulo Nogueira, Joana Lobo (Assistente de encenação /Dinâmicas de corpo e voz)

Actores: Ana Gil, Filipe Luz, Miguel Santos, Rui Pereira e José Carlos Pontes (pianista)

Música original: José Carlos Pontes

Espaço Cénico e Figurinos: Isabel Alves Mendes

Espaço sonoro: Hugo Guerreiro

Graffitis: Marco Almeida

Iluminação: Marinel Matos

Sonoplastia: Dina Marques

Luminótecnia: Carlos Casimiro e Élio Luís

Cartaz/Programa: Tiago Alves Mendes /Magnésio

Direcção de Produção: Élio Luís

Retroversão do telefonema de Mirov: Valentina Naumyuk do Grupo RefugiActo

Fotografia: David Marçal e Daniel Lobo Antunes

Produção: AltaCena

Ideia original: Joaquim Paulo Nogueira, José Boavida e Pedro Alpiarça

Duração: 1h30

Classificação etária: M12

Apresentações:Março: 6,7,13,14,21,27,28 Abril: 2, 3 de às 21h30

Bilhete: sócios 5€ / não sócios 7,5€

Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul

Av. D. Carlos I, 61 -1º LISBOA

INFORMAÇÕES E RESERVAS: TELF: 21 397 34 71

domingo, março 01, 2009

E agora eu sou

A sem-se-ver indicou-me para uma corrente engraçada, a das 6 verdades e 3 mentiras. Ainda considerei mudar a proporção de mentiras, é mais divertido brincar ao faz de conta que à verdade ou consequência. Mas como regras são para se cumprir, aqui vão:

1. Já fui loira, e descobri que isso tem de facto um efeito sobre os homens - e mulheres. Eles adoram mas não ouvem metade do que dizemos, elas odeiam e ouvem tudo para poderem dizer mal.

2. Gostei muito de me ver vestida de noiva, branco e tudo a que tinha direito. Excepto o suspiro pelas pernas abaixo, que é foleiro.

3. Estive em Vila Nueva del Fresno para comprar caramelos.

4. Já sofri de assédio sexual por uma vendedora de lingerie, que insistia em pôr-me as mãos nas maminhas para ver quão bem me assentava o tecido.

5. Não sei andar de bicicleta.

6. Gosto muito de cozinhar, especialmente pato em todas as suas variantes.

7. Uso saltos altos quase todos os dias.

8. Gosto de homens com narizes feios.

9. Tenho umas mãos horrorosas, o que não me impede de as arranjar com verniz às cores e tudo.

sábado, fevereiro 28, 2009

O que faz falta

Filipe II tinha um colar de oiro
tinha um colar de oiro com pedras rubis.
Cingia a cintura com cinto de coiro,
com fivela de oiro,
olho de perdiz.

Comia num prato
de prata lavrada
girafa trufada,
rissóis de serpente.
O copo era um gomo
que em flor desabrocha,
de cristal de rocha
do mais transparente.

Andava nas salas
forradas de Arrás,
com panos por cima,
pela frente e por trás.
Tapetes flamengos,
combates de galos,
alões e podengos,
falcões e cavalos.

Dormia na cama
de prata maciça
com dossel de lhama
de franja roliça.
Na mesa do canto
vermelho damasco,
e a tíbia de um santo
guardada num frasco.

Foi dono da Terra,
foi senhor do Mundo,
nada lhe faltava,
Filipe Segundo.

Tinha oiro e prata,
pedras nunca vistas,
safira, topázios,
rubis, ametistas.
Tinha tudo, tudo
sem peso nem conta,
bragas de veludo,
peliças de lontra.
Um homem tão grande
tem tudo o que quer.

O que ele não tinha
era um fecho éclair.

Poema do fecho éclair, António Gedeão. Poesias completas (1956-1967), 2ª Edição, Portugália Editora, Lisboa, 1968, pp 246-248.

terça-feira, fevereiro 24, 2009

D. Ester no baile

Proposta para este entrudo: ir a Entradas. Ao entrudanças. Com medo que não me deixassem entrar pela ausência de saias indianas e sandálias de cabedal no meu armário, parti para o Alentejo com o sol quente de domingo. Ao chegar estendi o pulso para me porem a anilha colorida que me dava acesso às actividades, descobri que afinal é um clube que deixa entrar pessoas como eu. De alguma forma isso não foi suficiente para me tranquilizar.

Depois de um bucólico passeio entre ovelhas e comido o prometido ensopado de borrego, devia sentir-me uma besta ao conseguir apreciar os béeeeeee da mesma forma que desencastro os bocados de carne do osso para os saborear, mas não. Decididamente não serei nunca uma vegan, o que de novo me deixou apreensiva, seria desta que me expulsariam do recinto?

Vi violas de campaniça a serem feitas, ponderei encomendar botas caneleiras feitas por medida, comprei brincos e pregadeiras freak à ganância, pensei que estava a conquistar a redenção que me permitiria ver a luz.

Nessa noite assistimos à performance "Memórias do entrudo em entradas", resultado de uma pesquisa dos costumes carnavelescos e da vida quotidiana dos tempos em que havia camponesas e lavadeiras. Mais de meia hora antes a sala já estava cheia dos habitantes da aldeia, curiosos para verem finalmente o video que os meninos da cidade andaram a produzir com a sua ajuda, apoio e protagonismo. O filme feito a partir de fotografias valeu a viagem, montagem com a terra e as gentes, entre caras bonitas e caretas de carnaval, para além do entrudo ele mesmo que acabou a noite a ser queimado ao ar livre, numa pira que haveria de durar toda a noite.

Seguiu-se um baile com danças italianas e francesas, que eu não sabia de todo como dançar. Mas com Deus como minha testemunha, I shall never be still again. No dia seguinte atirei-me como D. Ester às oficinas de dança.

Com o meu par lá fomos aprender valsas, mazurcas, polkas, fandangos e o que mais nos saiu do corpo. Para romper com a ideia quadradinha de se ficar agarrado à tábua de salvação de uma cara conhecida, o professor punha-nos a mudarmos de parceiro a meio das danças. Diverti-me imenso, a passear por braços de dezenas de homens diferentes, cada um reinventando o que tínhamos acabado de aprender ao seu modo e eu a tentar acompanhá-los da melhor maneira que conseguia. À noite atirei-me então sem dramas às músicas que me propunham, com o par que me calhasse em sorte.

Descobri um sítio e espaço onde o que interessa é a boa disposição e a vontade de estar bem consigo e com os outros. Além do mais, promessas são para serem cumpridas.

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Estrelas de mil cores, ecstasy ou paixão

Deve ser por andar a dormir pouco e a trabalhar muito, mas esta noite fui perseguida por um nissan primera com um joker ao volante.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Prevenção e água benta

Quando nem tenho tempo para me coçar, será melhor comprar um fraquinho de quitoso à cautela?

sábado, fevereiro 14, 2009

Restos e utilidades

Quis um acaso do destino que ficasse a braços com mais doces do que os que comi durante um ano inteiro. Procuro mentalmente algum amigo diabético que queira matar, mas até agora nada.

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Uma festa de anos original

Charles Darwin faz 200 anos, a sua A origem das espécies 150. Houve quem se lembrasse de comemorar a data e o evento de modo original: fazendo-lhe uma festa de aniversário. Em Lisboa, no Frágil, dia 12 de Fevereiro.

Diz que é uma festa surpresa, se o virem não lhe digam. Tenho para mim que o dito vai lá aparecer... bom, pelo menos o Dj é o Nuno Lopes, como é que eu podia faltar?

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Conversa de cama

- Gosto muito de dormir abraçada a ti.
- Eu também. És quentinha.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

the picasso within

Tenho um desgosto desde que me conheço - sou totalmente negada para o desenho. Durante os anos em que fui obrigada a tê-lo na escola os professores compadeciam-se do meu esforço e davam-me o suficiente para passar, não era por não tentar era por ser uma naba completa.

Descobri hoje uma avaliação do professor de Educação Visual do 2º ano do ciclo que resume bem essa minha faceta:

"A Menina Ester conseguiu com o interesse ultrapassar algumas das suas dificuldades de representação do real e de comunicação visual. Revelou criatividade. Deve continuar a trabalhar para manter o aproveitamento satisfatório".

De partir o coração.

Valeram-me as matérias em que podia aplicar a dita criatividade em linguagens que não requeriam a motricidade fina, e que não me tiravam pontos pela caligrafia - tão penosa como o desenho.

sábado, janeiro 31, 2009

O contrato

Gosto muito dele, gosto mesmo muito dele. Ele pode não saber mas em 2010 vamos casar, tenho a certeza. O problema é que ele tem de resolver a sua vida, a mulher e as crianças, sabes como é.

A coisa nasceu devagarinho, nem dava para adivinhar o que dali vinha. Uma relação profissional que se foi estreitanto, quando dei por mim os telefonemas e mensagens diários eram às dezenas, passamos horas ao telefone por tudo e por nada, tempos infinitos. Mas ele nada de avançar para o que é bom, eu acho que o problema dele é ser demasiado boa pessoa.

Vai daí achei que o melhor para ver se ele acordava era fazer-lhe ciúmes, podia ser que assim resultasse e ele percebesse o que anda para aqui a perder. Comecei a receber flores, telefonemas, coisas assim de um Hugo. Com vida, profissão e tudo, que nestas coisas se é para criar inventa-se tudo desde o início.

A coisa cresceu de tal forma que percebi que para o abanão final o Hugo tinha de aparecer, e não podia ser nenhum dos meus amigos, senão mais cedo ou mais tarde ele ia descobrir a marosca. Além do mais levo as coisas muito a sério, se é para fazer faço bem.

Contratei um prostituto.

terça-feira, janeiro 27, 2009

De facto

Conversando com um grande clínico, tentando descobrir a melhor forma de fintar a mulher de branco, atira-me

Não temos prova científica de que vamos morrer, mas não somos parvos

domingo, janeiro 25, 2009

Actually, my eyes are green


Tal como todas as mulheres do filme, também eu, sentada na minha poltrona no escuro, não consegui deixar de me apaixonar por ele. Temo bem ser um caso perdido; desde que o vi como gay sádico apanhei-o como a um vírus.

sábado, janeiro 24, 2009

Defesa indiana do rei

No sábado ficámos sem a Tereza Coelho. No domingo foi-se embora o João Aguardela. Neste fim de semana ponho o cavalo em F3.


quinta-feira, janeiro 22, 2009

Quinze a zero

Apresento-me um bocado antes da hora marcada para a conferência subordinada ao tema "sistema digestivo e sistema excretor", pelo meu sobrinho na sala da 3ª classe.

Explica-me o procedimento: vai haver uma exposição, seguida de perguntas e todos (incluindo eu) teremos de fazer a avaliação no final. Faço uma careta de maldade e posso dizer que não gostei? Responde-me com tranquilidade, se for essa a tua opinião sim, mas tens de explicar porquê.

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Unidades de medida

-Parece-me que a tomada de posse do Obama é equivalente a um Sporting-Benfica.

- Em termos de quê?

- Transmissão em directo e cervejas

sexta-feira, janeiro 16, 2009

A educação que me deram

Ao almoço com o meu Pai,

- Tu estás bem, filha?

- Estou mega stressada, cheia de trabalho, com 5 projectos simultâneos e com umas pessoas a quererem fazer-me a folha. Estou com pressa por causa disso, tive chatices de manhã e agora mais umas reuniões e...

- Sim, mas tirando isso, estás bem?

O meu pai trabalha imenso, todos os dias. Quando era pequena não entendia aquele afã, sempre agarrado aos papéis, até porque quando os largava nem uma palavra sobre o assunto lhe saia. Ensinou-nos que o trabalho faz parte da vida, mas que de facto não é o mais importante. Quando me pergunta como estou não lhe interessa se o trabalho corre bem ou mal, isso é o que eu tenho de fazer, a minha missão. O que realmente importa é se estou bem comigo e com os outros, amizades e amores. O resto vem por acréscimo. E que falar do trabalho é para quem não tem mais nada que dizer.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Aqui vai uma barquinha carregadinha de

Não sei a que achar mais graça, se a D. José Policarpo ter dito que casar com muçulmanos pode ser um monte de sarilhos ou se o ter dito numa tertúlia chamada "125 minutos com Fátima Campos Ferreira" no Casino da Figueira da Foz - ou que o tenha proferido na mesma sala onde hoje se pode ver o show Hot Legs, também com entrada livre.

Oz

Tenho uma relação estranha com Baz Luhrmann. Da primeira vez que vi o Romeu e Julieta odiei; à segunda fiquei encantada. Com o Molin Rouge foi amor à primeira vista. Australia cansou-me, desesperou-me e divertiu-me. Os twists propositadamente previsíveis provocaram-me gargalhadas, parecia que o encontrava atrás do ecran a piscar-me um olho, here's looking at you kid. Ele brinca com os clichés todos, os maus e os bons, o homem rude e a mulher sofisticada, os ricos e os pobrezinhos, os autóctones que não podem entrar no saloon dos brancos, o oficial britânico que desiste de lutar por uma possibilidade de romance. Western, guerra, amor, bebidas que provocam caretas, soluções milagrosas para desastres iminentes, beijos à chuva, bailes de gala e entradas arrebatadoras.

Australia conta-se em duas linhas: homem, mulher e criança, uma missão, perdem uns actores secundários pelo caminho até ao happy ending final. Os bons são recompensados, os maus são presos, a verdade ganha sempre.

Oz é o nome coloquial para a Austrália. Com tanta sorte Victor Fleming, um dos realizadores amplamente citados durante as 3h do filme, tinha feito há 80 anos o Feiticeiro de Oz, usado como leit motiv para nunca nos esquecermos que algures no final do arco-iris, lá bem em cima, todos os sonhos são possíveis.

Ah, e tem o Hugh Jackman a domar cavalos. Yummy.

segunda-feira, janeiro 12, 2009

The truth is out there

O que é o tempo, o que ele nos faz, o que tudo isto significa. Séculos de perguntas à volta do mesmo tema, chega agora a messias: Cristina A., aluna do ensino superior resolve de forma brilhante a questão "Quais as diferenças entre preparações extemporâneas e definitivas"

As diferenças entre as preparações é que as temporárias somos nós a preparar, as definitivas já estão feitas e prontas para serem observadas ao microscópio.

Reparem como ela entende o continuum espaço-tempo, em que a matéria definitiva já existia antes de nós e perdurará além da nossa morte, por oposição ao efémero, ao trivial, ao prazer momentâneo e fugaz que ocorre na construção de algo mais curto que a nossa existência.

domingo, janeiro 11, 2009

Descoberta dominical

Há mais poleias entre o céu e a terra Horácio, do que podia sonhar a minha vã filosofia.

sábado, janeiro 10, 2009

Quero (não) ver o mesmo que eles

Numa grande loja de óculos enquanto espero que me atendam vou lendo os folhetos que se estendem à minha frente, com a mesma atenção que dedico aos pacotes de leite e manteiga do pequeno almoço. Viro-os de um lado, do outro, passando os olhos meio indiferente aos seus golpes publicitários, até encontrar o inesperado dentro do capítulo opções de lentes:


"Lentes polarizadas:
Lentes de sol polarizadas que protegem dos deslumbramentos e evitam reflexos incómodos"






(descobri nuns folhetos mais à frente que na realidade se referiam a encadeamentos. fiquei um bocado desiludida, já tinha encomendado meia dúzia)

quinta-feira, janeiro 08, 2009

Península

Estou rodeada de pilhas de papéis e trabalho por todos os lados excepto um. O da parede atrás de mim.

quarta-feira, janeiro 07, 2009

Resoluções de ano novo - 9

Número 9 - Dançar e cantar sempre

Salsa, merengue, kizomba, morna, tango, rock, pop, samba, electrónica, punk, hard core trash metal, polca, valsa, rumba ou cha cha cha, o que importa é dançar mesmo muito.


E cantar, no banho, no carro, na sala, com público ou sem ele. Continuar sem me importar com as pessoas que deixo de boca aberta nos semáforos ao verem as minhas goelas abertas no máximo enquanto me abano no banco.


Não interessa se não acerto no tom, o pior mesmo é desafinar na vida.


segunda-feira, janeiro 05, 2009

Ceci n'est pas une porte

Uma fotografia da sem-se-ver


Descobri esta fotografia aqui e esta posta tornou-se inevitável. De repente esta porta era eu. A madeira tosca, metade pintada e outra por cuidar, corações de ambos os lados mas cada um com o seu norte. E fechada como está, com uma tranca a trespassar corações desavindos sem saber o que lhes há de fazer. Mantê-los juntos ainda que cada um para o seu lado? Mas se uma porta está para ser aberta, não serve de muito fechada. Pois não?

Olhando melhor, acho que se pode abrir mas do outro lado. Daquele que não vemos, que não conseguimos ver, que está do lado oposto ao da fotografia. Há alguém que tem a chave e consigo o poder de a abrir e dar-lhe então sentido. De que serve uma porta com corações desencontrados se não se pode escancarar?

Uma porta que protege mas não do frio porque está esburacada em ambas as portadas. Também não é da chuva, que come a tinta e incha a madeira. Ao vento não oferece grande resistência, com medo de se partir. Para que serve esta porta então?

Olho ainda com mais atenção. Tem pregados os resquícios do que um dia foi uma fechadura, agora partida e sem nada que a faça mover. Mas ainda resiste uma pega de metal com aspecto firme. É nela que deposito a minha esperança.

sábado, janeiro 03, 2009

Resoluções de ano novo - 10

Número 10 - Tratar (melhor) do carro

Já com a dita fora do prazo, marco a inspecção que serve até para averiguar do seu grau de conservação. Espero a minha vez ao lado de outras pessoas com igual ar macambúzio, entre ressacas e gripes ainda por curar do ano anterior. Uma voz feminina chama-me pela matrícula, pedindo-me sublinhando o por favor que me dirija à linha 3, onde me espera um circunspecto inspector que me manda avançar com sinais que descortino com dificuldade, afinal é mais para a direita. Segue-se a saga dos mínimos, médios, máximos, piscas, que se repete para a parte traseira acrescentando a luz de marcha atrás e a de nevoeiro, seguindo-se o triângulo e colete (XL, faz-me sempre rir pensando no dia em que o terei de usar).

Passando à parte séria, a dos travões e suspensão, para a qual já tenho resposta preparada. "Importa-se que seja eu a fazer?", pergunta-me. "Claro que não, até lhe ponho o banco mais para trás e tudo", arranco-lhe assim um sorriso aberto e genuíno, pondo o bold não apenas na sua superioridade na capacidade de travar o meu carro como nas suas dimensões viris comparadas com as minhas (como sou pequena é truque que resulta sempre, e à qual o típico macho português se revela sensível).

Apenas me devolve a primazia do condutor porque tem de me mandar guinar a direcção enquanto inspecciona qualquer coisa nas entranhas, nunca soube o quê e dou graças por terem finalmente instalações que não me obrigam a ser içada a 3 metros de altura do chão, situação que me deixa em meio pânico a achar que é desta que faço as manchetes do correio da manhã com um acidente mais que insólito.

Veredicto final: aprovado por unanimidade, mas sem louvor e com uma distinção. Diz que tenho os faróis descaídos. Venho-me embora, não sem antes verificar no espelho retrovisor se se estaria a referir ao aparecimento de algum pé de galinha.

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Ímpar

Garante-me um amigo, que recolheu a informação junto de fontes não identificadas mas muito bem posicionadas, que 2009 vai ser um ano ímpar. Não tenho motivos para duvidar.